Peço desculpas aos meus 2 assíduos leitores, mas tenho andado por outras paragens nos últimos tempos.
Mais precisamente na varanda.
Pois é, a minha mulher e filhos, aproveitando o élan higienista dos tempos de hoje, expulsaram-me a mim, e aos meus "pregos", para o ar livre da rua.
O conceito de "divisão selada" destinada ao tabaco não vinga mais, nesta casa, em 2008....
Tal como fui expulso de lugares onde, outrora, eu convivia alegremente com amigos e hoteleiros. Agora, com sorte, tenho um lugarzito na rua, com mesa, cadeiras, cinzeiro, atendimento em menos de 30min e temperaturas supra-polares.
E olhares de soslaio. Desde logo quando entro, envergonhado, para pagar a conta, logo após exalar a última baforada de tabaco e de fazer umas 10 expirações forçadas, para não levar vestígios de veneno remanescentes nas minhas vias aéreas para o "sítio dos justos". E vou com sorte de ainda não me obrigarem a lavar os dentes.
Depois quando saio, em agonia de privação, feliz por reentrar na Sodoma do "exterior", onde a minha liberdade não foi tolhida, pelo menos por enquanto.
Sou, pois, um toxicodependente.
No caos nas Urgências da época, se fumo, lá fora onde estão os doentes a desesperar há horas para uma primeira observação pós-triagem, sou seguramente linchado (já tentei...). Resta-me o subsolo, na escuridão, escondido das câmaras de vigilância e do povo que tende para a imortalidade. E não sei quanto tempo mais conseguirei fugir, julgo que já andam desconfiados, e que tenho sido seguido nos últimos tempos. Sinto-me um Judeu acossado por nazis. Claro que no fundo não passo de um delinquente a fugir às garras da Lei.
Não posso fumar em casa, nem no carro. Já não fumo em locais públicos. Resta-me a rua, e a clandestinidade.
Curiosamente, a coisa tornou-se emocionante, mas perigosa. Imagino revoltas e rebeliões, Anarquia. Na prática, fujo como posso, e escondo-me.
E, claro, vou para a rua, poluir o ar e os pulmões dos infelizes que se cruzam com as minhas exalações cancerígenas. Enquanto posso.
1 comentário:
Estás cheio de sorte! Aqui em casa nunca deixei que se fumasse. Chova ou faça sol, só lá fora.
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