sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tensão Arterial

NÃO DEVE ser medida em Consulta. A hipertensão arterial (HTA) em ambiente de consulta representa pouco mais que nada.
Deve ser medida idealmente em casa, em alternativa na farmácia/centro de saúde, em alturas diversas com registo da data e da hora. E esse registo é que se apresenta na consulta.
É hipertenso e tem menos de 35 anos? Começou com HTA já depois dos 50 anos? A sua HTA estava bem controlada e subitamente está refractária a um tratamento em crescendo?
Pergunte ao seu médico se não terá uma causa secundária (e potencialmente curável) de HTA.
Cumpra rigorosamente as prescrições, ou então esqueça e deixe de tomar os remédios de uma vez por todas, e assuma-o. Mas não faça de conta que está a tratar a sua HTA, só porque lhe prescrevem medicação pontualmente, e que acaba por tomar irregularmente. Porque não apenas não está a tratar a sua HTA, como está a sujeitar-se a interpretações erradas por parte do médico do seu perfil tensional, com a iatrogenia decorrente dessa inconsciência.
Nesta doença como em todas as outras, nunca minta ao seu médico. Não é inteligente, excepto se estiver a tentar fingir-se doente para efeitos legais.
Em todos os outros casos, nomeadamente naqueles em que estiver realmente a sentir-se doente, minta antes ao padre. É mais inócuo.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Com Pressa

A propósito de compressas (esquecidas), apraz-me dizer, num maljeitoso trocadilho, que com pressa não há bom trabalho que aguente, pelo menos a prazo.
Geraram-se, nesse hiato de mais de uma dezena de anos desde o sucedido, mecanismos de não se esquecerem compressas dentro das barrigas dos doentes, por pressa ou outra razão qualquer, até porque a estatística teimava em assinalar que não se tratava de situação de excepção (ainda que rara), com a agravante da importante morbilidade que acarreta.
Sem mais delongas sobre o caso, que não tem muito que se lhe comente, queria pôr antes uma tónica na política de "Com Pressa" que reina no sector.
Pressa, em fazer muitas consultas em pouco tempo. Pressa, em atender muitos doentes nas Urgências, com menos pessoal e menos Centros de Saúde a montante. Pressa, por se tratarem pessoas doentes ou potencialmente doentes como números.
A pressa é rentável.
Mal compensada com mecanismos que assegurem qualidade, dá aso a erros. Estatisticamente insignificantes.
Como as Compressas.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Cagança

Isto dava uma tese, por isso vou-me limitar a uma modesta análise pessoal do fenómeno.
Há 2 grandes tipos, que eu fui reconhecendo ao longo dos anos.
1º: A Cagança do tipo "já estou farto de me chatear com esta mediocridade toda que me rodeia". O tipo mais raro, é certo, mas certamente presente em qualquer instituição de saúde, em que alguns dos profissionais mais brilhantes, escaldados por anos de abuso (os melhores em geral são muito mais solicitados, o que, face a um sistema que não premeia o mérito nem a excelência, acaba por redundar num acréscimo nada desprezível de trabalho), e com a paciência consumida por actos que consideram inaceitáveis, de atraso diagnóstico ou incumprimentos de normas básicas de abordagem, seguimento ou tratamento, acabam por personificar.
É uma Cagança de carapaça, que esconde pessoas realmente muito valiosas, muito boas no que fazem, e que após reconhecimento de valor e desinteresse pessoal naqueles que os rodeiam, tratam-nos com respeito e consideração. Mas até lá, com o desprezo a que preferem votar o desconhecido, que em termos estatísticos vai ser provavelmente medíocre e desinteressante.
É uma cagança que não interfere com a produtividade, a eficácia, a capacidade de actuação.
É, em suma, a boa Cagança. A do indivíduo irrascível, alvo de atenção pelo peculiar dos seus actos, pela excentricidade das suas intervenções no dia-a-dia.
O Dr. House, numa analogia televisiva.
Esses "Cagões" alimentam-se essencialmente dos seus próprios egos.
2º: a outra Cagança, do tipo "se me puser com certos ares, concerteza que ninguém me chateia". De longe a mais mediatizada e a mais reconhecida pelo grande público. A que dá (mau) nome aos médicos por esse país fora. Aquela que se destina a esconder fraquezas travestindo-as de segurança e certeza. Aquela que se destina a disfarçar ignorância e incapacidade com uma putativa altivez que torna o sujeito destes actos supostamente superior a escrutínio dos demais mortais. No fundo, a falsa Cagança. Ou a cagança mal direccionada, que confunde status profissional com razão.
Esta cagança não leva ninguém muito longe na (real) consideração dos que os rodeiam, apesar de estranhamente levar muita gente muito mais longe do que eu alguma vez teria imaginado, sobretudo em termos destas moribundas "carreiras" que se foram fazendo ao jeito, mais destes do que dos "bons" Cagões (o 1º tipo).
Constam em geral do anedotário dos hospitais, e contribuem com histórias de patetice que se vão eternizando de boca em boca, histórias essas que não são assim tão interessantes, concerteza, por parte dos que foram vítimas das mesmas.
Mas lá vão arrastando as ridículas carcaças, anónimas para os desgraçados dos "utentes", de boquinha espremidinha pela doutorice, como já assinalava o Garrett em tempos idos.
Estes cagões alimentam-se da imagem que conseguem perpassar ao desprevenido que conseguem confundir, alimentam-se de postos e de poder conquistado à custa da esperteza soloia, e da eternização deste ciclo vicioso. Acabam eventualmente convencidos, num fenómeno esquizóide curioso, que são realmente excepcionais.
Com os Cagões do primeiro tipo, a sua consideração é virtude, e o combate visa a demonstração de excelência, única arma apreciada, ou sequer considerada, nestas batalhas.
Para os do segundo, a virtude reside no conflito e na confrontação, no desmascarar e na exposição da sua real condição, mais que suficiente para ridicularizar estas criaturas. O que, por outro lado, não costuma ser fácil, já que ao contrário dos primeiros, estes raramente andam sozinhos, não têm regras ou ética, e não olham a meios para atingir os seus fins....

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Coisas Más

Não canso de me pasmar com a comparticipação de uma série de placebos na nossa praça.
Canso-me de ver doentes a fazer Vastarel (vulgo trimetazidina), ao invés dos beta-bloqueantes, dos iECA's, dos nitratos e dos anti-agregantes que muitas vezes precisavam.
Não me lembro da quantidade de vezes que respondi "pode continuar, se fizer questão, acho que mal não faz..." à pergunta "Dr., mas posso continuar a tomar este remédio, que me faz tão bem!".
Que tomem, pois, o "vastarelzito", mas não às custas do herário público. Pelo menos até à publicação de um estudo/ensaio clínico randomizado, duplamente cego e controlado com placebo. O Infarmed anda a dormir? Para que serve o Infarmed?
E porque não comparticipar remédios a sério, como diversas vitaminas, como o cálcio, como uma série de anti-agregantes plaquetários, que os doentes têm que pagar do seu bolso por inteiro, e que de facto (comprovadamente) servem para alguma coisa?
E o Betaserc (vulgo beta-histidina)? Para que serve, afinal, o Betaserc? Para recolher os louros de vertigens auto-limitadas?
E mais uns quantos "venotrópicos", e mais uns quantos "neuro-estimulantes".
Até já se fazem genéricos, pasme-se, e comparticipados também, de placebos. Esta gente tem alguma coisa contra a água? E porque é que ninguém me comparticipa a água?
Não fui eu que me dediquei à prospecção, acedam ao Prontuário Terapêutico online (uma das melhores produções nacionais no campo da Medicina, honra seja feita aos seus autores) e lá vêm umas quantas substâncias, alegremente comparticipadas por esta dormente instituição que dá pelo nome de Infarmed, cuja finalidade é "não estar devidamente comprovada em nenhuma indicação"....
Outros valores, seguramente, se sobrepõem. Talvez um dia saibamos quais.

Coisas Boas e Raras (IV)

Um bom entendimento e ambiente de trabalho entre os diversos profissionais. (médicos, enfermeiros, auxiliares...).
Coisa boa e rara, capaz de tornar suportável o mais caótico dos serviços de Urgência.
Pormenor fundamental: cada um ser bom no que faz, e fazer o que deve sem pedir. Há dias, por vezes fracções de dias, em que um micro-núcleo de gente assim basta, em que se vai desbastando na confusão, sem fim à vista, com dedicação, e por vezes até humor e brincadeira. A boa disposição marca toda a diferença, e o conhecer-se o próximo e as suas qualidades, que já nem se questionam a partir de dada altura.
Conheço pouca gente desta, ainda assim bastantes enfermeiros, alguns, menos, colegas. Mas contentamo-nos com o que vai havendo disponível "desta casta" numa pontual escala. Reunimo-nos, consolamo-nos, andamos para a frente nas alturas difíceis. Únicos critérios: competência e fiabilidade, entendendo-se por esta útlima honestidade e capacidade de trabalho. Contra "os outros", dos quais nada se espera, nos quais pouco se confia.
É o que me vai valendo, esta gente.
O meu anónimo obrigado a todos.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Coisas (Muito) Boas III

Diazepam (5 ou 10mg).
Indiscutível candidato ao título. Estivesse eu "em cima" de uma qualquer Urgência e seria o candidato natural por excelência, a "coisas boas nº 1".
Ansiolítico, hipnótico, mio-relaxante, anti-convulsivante, as propriedades que mais procuro....
Um "docinho", com efeitos colaterais deliciosos em quem o administra!
Devia ser excipiente de quase tudo. Até um aditivo alimentar obrigatório em países ditos desenvolvidos.
O remédio mais útil em Pediatria, desde que administrado aos progenitores.
Tem múltiplos "irmãos", todos simpáticos.
E para quando o dia Mundial das Benzodiazepinas?

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Coisas Boas II

Amoxicilina/Clavulanato (875/125mg por cp).
O meu preferido. Panaceia? Quase, na prática. Infecções ORL, infecções respiratórias adquiridas na comunidade (em associação), infecções urinárias....
Em dose anti-pneumocócica, claro, que não é a que vem na bula: 3g/dia (1cp de 8/8h). Há caixas de 24 cp (8 dias).

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Coisas Boas Por Cá

Metamizole, vulgo Nolotil.
Proscrito nos EUA e em muitos países europeus, por raras agranulocitoses, é um analgésico fabuloso que enriquece a nossa farmacopeia e alivia muita dor por este país fora, todos os dias. A bula refere um máximo de 4 comprimidos de 575mg por dia (2,3g). Por via e.v., em ambiente hospitalar, é frequente a administração de uma ampola de 8/8horas (6g/dia, o equivalente a 10 cp).
Nimesulide.
Um anti-inflamatório não-esteróide de primeiríssima água, também excluído em muitos países, por hepatotoxicidade, relativamente menos gastro-tóxico que muitos da sua classe com igual potência. Neste é escusada a toma de mais de 200mg/dia (2 tomas), não se incrementa o efeito e exponenciam-se os efeitos secundários.
Um casalinho que dá um jeitaço em múltiplas indicações.
Quando tomados nas doses adequadas.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

ALERT(R)

(...)
O Tribunal de Contas está a investigar os contratos do Ministério da Saúde com uma empresa, a Alert Life Sciences Computing, para a informatização dos hospitais e centros de saúde. O negócio foi feito através de ajuste directo e não por concurso público, que permitiria escolher condições mais vantajosas para o Estado. O negócio suscita dúvidas não só ao Tribunal de Contas mas também a deputados da Assembleia da República, administradores hospitalares e profissionais de Saúde. Perguntam por que o Ministério pagou milhões de euros por sistemas informáticos a uma empresa que cobrou o dobro do preço apresentado por outras empresas do ramo. A empresa contratada pelo Ministério sucedeu em 2007 à Médicos na Internet e Novas Tecnologias Aplicadas à Saúde. O CM sabe que a ex-secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Carmen Pignatelli, autorizou o pagamento de 677 mil euros àquela empresa pela elaboração de dois relatórios e de 791 mil de euros pela formação dos profissionais que vão trabalhar com uma aplicação informática, Alert P1. Esse sistema custou sete milhões de euros (notícia avançada pelo CM a 25/01/07) e permite aos centros de saúde marcar as primeiras consultas da especialidade nos hospitais. A notícia do CM produziu na ocasião grande inquietação no gabinete do primeiro-ministro, José Sócrates, que envidou esforços para apurar as circunstâncias do processo. O CM tentou um esclarecimento de Carmen Pignatelli, mas esta remeteu explicações para o seu antigo chefe de gabinete, Rui Guerra, que justificou a opção pela empresa Alert: “Não havia um sistema alternativo ou outro produto na central.” Porém, documentos a que o CM teve acesso revelam que o Estado podia ter optado por outra empresa. A Hewllett Packard Portugal constava da Agência Nacional de Compras Públicas em Fevereiro de 2007, com preços muito inferiores. Questionado sobre eventuais pressões junto dos hospitais para aquisição do software da Alert, Rui Guerra responde: “Não assisti a nada formalmente. Os hospitais tinham a autonomia para a escolha dos sistemas informáticos que muito bem entendessem, mas deviam respeitar uma circular do IGIF, que definia os critérios dos sistemas de informação que depois seriam introduzidos numa base de dados de âmbito nacional.” DOCUMENTOS E MAIS EXPLICAÇÕES O deputado parlamentar e médico João Semedo, do Bloco de Esquerda, enviou um requerimento ao Governo a pedir explicações sobre esta situação. Esta não foi a primeira vez, pois há um ano já o tinha feito. O Tribunal de Contas pediu mais documentos antes de emitir o visto e quis saber por que não se optou pela abertura de um concurso para apurar a existência de outras empresas. Administradores hospitalares interrogam-se como há hospitais que pagam àquela empresa o dobro do preço por um sistema informático quando, afinal, existem no mercado produtos a menos de metade do preço, da mesma qualidade e eficácia. O negócio com a Alert é feito em regime de exclusividade e por um período mínimo de cinco anos.
(...)
Cheira mal.
A minha experiência pessoal com o sistema "ALERT" pode-se resumir a: lento e pouco amigável.
Mas quem sou eu, para mais tendo sido uma opção tão cara....

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Outro Mundo

Já repararam como deixaram de nascer crianças em ambulâncias, deixaram de estar mal acompanhadas as grávidas, deixaram de morrer velhinhos sem quem lhes acuda, deixaram de ser indispensáveis os SAP's, deixaram de estar sobrelotadas as Urgências, deixaram de ser incompetentes os bombeiros, deixou de ser insuficiente o CODU, enfim, como deixou de ser uma porcaria o SNS?
E tudo isto, com apenas uma remodelaçãozita....

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Confúcio de Fim-de-Semana

A vida, como a diabetes, pode ser mellitus ou insipidus.