sábado, 26 de julho de 2008

Lixo

Revista Sábado, Fernando Esteves e Cª.... Mas sublinho: nada contra, cada um que escolha o seu próprio pequeno-almoço. As ratazanas também são filhas de Deus, e se a calúnia dá de comer a algumas, não serei eu a retirar o pão da boca de ninguém, ainda para mais por um preço tão baixo quanto é algum "zum-zum" de quem cujo QI precisa de alguma ginástica.... Acima de tudo, assinalo que esse lixo não é da minha área. Os jornalistas a sério que o varram.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Eis a Questão

And who by fire, who by water, who in the sunshine, who in the night time, who by high ordeal, who by common trial, who in your merry merry month of may, who by very slow decay, and who shall I say is calling? And who in her lonely slip, who by barbiturate, who in these realms of love, who by something blunt, and who by avalanche, who by powder, who for his greed, who for his hunger, and who shall I say is calling? And who by brave assent, who by accident, who in solitude, who in this mirror, who by his lady's command, who by his own hand, who in mortal chains, who in power, and who shall I say is calling?

Leonard Cohen

Um homem que torna este mundo melhor. Um mágico, não tenham dúvidas. Traduz em palavras, agrupando-as em melodias, as angústias da vida e o mistério do amor. Um grande obrigado à Sra que foi autora do desfalque milionário que o terá arruinado e obrigado a este "Tour", que incluiu o sublime concerto no Passeio Marítimo de Algés do passado sábado à noite, pelo serão. Partilhei desapaixonadamente o convertido budista com outros 9.999 seres de bom gosto, e não tive ciumes. Essa aldrabona, que não conheço, acaba por ser uma santa. E o Homem (com H grande) é um preguiçoso.... Essa voz merecia ter sido ouvida mais vezes ao longo de todos estes anos, fiquei quase ofendido de não lhe detectar sinais de fraqueza e faltas de fôlego. Há noites que nos tornam, simplesmente, felizes. Há noites em que nos lembramos da benção de ter vivido até então. Abençoado seja este canadiano preguiçoso, por mais este milagre do contentamento. E agora, meus senhores, já posso morrer ;)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

AVC Topo de Gama

Tem menos de 75 anos?
Está a sentir falta de forças num hemicorpo?
Então parabéns, pois é candidato a um AVC "topo de gama".
O AVC "topo de gama" caracteriza-se pelo direito a cuidados diferenciados numa Unidade de AVC, onde se centralizam os cuidados a este tipo de doentes, o que se provou ser francamente benéfico em termos prognósticos, quer estejamos a falar de mortalidade, quer (e sobretudo) estejamos a falar de morbilidade, comparativamente aos cuidados "standart".
Nessas Unidades, os doentes morrem, portanto, menos, e sobrevivendo mais, sobrevivem também melhor, com menos défice funcional, para o resto das suas vidas. Isso por diversos motivos, que são conhecidos, mas que não me parece pertinente estar aqui a escarafunchar (melhor estadiamento, maior intensidade e precocidade no início da reabilitação funcional, maior celeridade na execução dos exames, melhor controlo dos parâmetros vitais, da glicemia, etc...).
O problema, em Portugal e se calhar nos outros países também, é que há relativamente poucas vagas nas Unidades, para muitos AVC's. O que portanto obriga à destrinça entre AVC's "topo de gama" e AVC's "de segunda".
Os AVC's "de segunda" são os AVC's dos (muito) velhos (geralmente >80 anos), e os AVC's dos doentes que, à partida, até já estavam muito mal antes do AVC.
Em suma, os doentes em que não é necessário "investir" tanto.
Claro que esses doentes seriam muito melhor tratados numa Unidade dessas, comparativamente ao tratamento que recebem numa enfermaria convencional, do que aqueles para as quais essas Unidades afinal se destinam. Não que os médicos ou enfermeiros sejam melhores ou mais empenhados, mas porque há mais médicos para menos doentes, mais enfermeiros para menos doentes, monitores permanentes para todos os doentes, e cuidados centralizados para esses doentes.
Diria mesmo, e sem me enganar, que o benefício relativo nesse grupo de doentes até seria seguramente maior, do que numa população de menor risco, como a que no fundo caracteriza a indicação para entrar numa dessas Unidades.
Ou seja, os que estão mais fragilizados são os que recebem menos cuidados. Porquê? Porque estando mais fragilizados, têm seguramente pior prognóstico à partida do que os outros, e logo potencial de recuperação menor. Ou seja, são brindados com a facultação de cuidados "de segunda", que é para recuperarem ainda menos, e/ou morrerem mais. Peço perdão: para recuperarem e morrerem como dantes, ou como "sempre"... (para verem que o politicamente correcto é um exercício permanente, também nas linhas deste blog).
O mais engraçado é que durante muito tempo, esses "critérios" de admissão, não publicados mas conhecidos de todos, não me chocaram e pareciam lógicos, dada a desigualdade na correlação: capacidade de facultar cuidados altamente diferenciados versus número de candidatos a esses cuidados.
Revendo a coisa com cuidado, é uma perversão. E mais uma machadada na pouca dignificação que se atribui a essa coisa, que é a recta final da vida.
O que só me leva a reforçar a minha convicção de, nos dias que correm, e com tendência a piorar cada vez mais para o futuro, o melhor mesmo é não chegar a "muito velho", particularmente se não se estiver abençoado por uma salvadora demência moderada a severa.
Por isso, caro leitor, olhe bem para todas as perspectivas (...nomeadamente a do seu avô), e pense duas vezes antes de prevenir essa sua aterosclerose.
PS: claro que se o "muito velho" se chamar Mário Soares ou Manuel de Oliveira, e apesar do manifesto desinteresse público em investir o que quer que seja em qualquer uma dessas personalidades, o critério de admissão ajusta-se (ver alínea 1: ponderação de país terceiro mundista).