quinta-feira, 14 de junho de 2007

Séries Televisivas (Médicas)

Vejo apenas duas: o "House" e o "ER". Às vezes, geralmente em compactos que apanho casualmente nos fins de semana.
Mas gosto de ambos.
O House, um Internista por excelência (para os que não sabem o que é a Medicina Interna, finalmente existe uma referência globalmente conhecida para ajudar a fazer entender a coisa), retrata bem as virtudes e dificuldades das sua Especialidade. É a mãe de todas as Especialidades Clínicas, que trata o doente como ser global. É Cardiologia, Nefrologia, Neurologia, Psiquiatria, Gastrenterologia, Reumatologia, etc. Por vezes, em delírios próprios dos fazedores de séries menos conhecedores da realidade das coisas, até chega a ser Hemodinamista de intervenção, Cirurgião, Neuro-cirurgião, Imagiologista, Patologista Clínico, Anatomo-patologista, enfim, mesmo tudo, o que, convenhamos, rebenta com os limites do exagero, mesmo para um admirador como eu da Medicina Interna....
Mas lá transmite a mensagem: é a Medicina dos diagnósticos difíceis, dos diagnósticos raros, das doenças orfãs. É aquele a quem se recorre quando todos os outros desistiram. É uma Especialidade de intervenção, invasiva, iminentemente hospitalar. O "filho pródigo" do Intensivista (médico de Cuidados Intensivos). Lá como cá.
Claro que cá também trata Patologia de rotina de outras especialidades, e não apenas os casos difíceis. E sub-especializa-se em múltiplas áreas, conforme as carências locais dos diversos sítios. Aliás é interessante ver que a esmagadora maioria das sub-especialidades portuguesas tem como pais fundadores Internistas dedicados às respectivas áreas.
Também foca os grandes pontos fracos da Especialidade. O facto de ser iminentemente hospitalar, logo, pouco lucrativa porque sem saída na privada. O facto de não ser de todo rentável para qualquer administração que se preze, que preferem diagnósticos e tratamentos rápidos e lineares a grandes investigações (e investimentos) diagnósticos em doenças com tratamento prolongado. Pouco lucrativa para os próprios, dispendiosa para as administrações, e está encontrado o cocktail que leva à elevação do ego, condição sine qua non de quem opta pelo sacerdócio em causa. E que mais uma vez o House eleva ao exagero, com o seu espírito irrascível e cínico.
Mas é, sem dúvida, onde reside aquele "espírito" de Medicina que mora no subconsciente de todos.
O ER é também interessante, talvez uns furos abaixo do House (cujos diagnósticos são discutidos no dia-a-dia pela própria classe médica), e mostra um serviço de Urgência, caótico como os nossos, mas que em tudo o resto funciona bastante melhor.
As grandes diferenças?
Se no House residem essencialmente nas melhores condições físicas, e no exagero da exponenciação dos skillings do seu team, no ER tem a ver com quase tudo, no que ao trabalho médico diz respeito. Aqui não nos limitamos a ver o doente e a pedir os exames, que aparecem feitos depois. Aqui temos que ver o doente (e ver implica fazer tudo, desde medir a tensão até puxar o aparelho dos ECG, colher algumas análises, preencher os pedidos de análises e exames imagiológicos (quem me dera que fosse como na série, em que basta falar e alguém aponta essas coisas todas, e pode-se passar logo para o doente seguinte...), regatear os exames ou observações com os colegas com as esperas que isso implica (há que encontrá-lo primeiro...), .... No fundo, lá optimiza-se tudo, a acreditar da similitude da série com a realidade deles. O médico faz trabalho de médico, o secretário faz o trabalho de secretariado. Cá o médico faz tudo, e ninguém se importa que por fazer tudo, faça menos Medicina.
Bem, no fundo e em suma, séries boas de se ver para passar o tempo.