Antes que algum pasquim se apodere destes números que nos chegam do hemisfério Sul, esclareço.
As gripes têm mortalidade directa e indirecta:
-A directa é aquela cujo responsável é, "directamente", o vírus, isto é, o influenza a provocar, neste caso, sobretudo (para efeitos de mortalidade), pneumonites virais;
-A indirecta, que contribui praticamente em exclusivo para a mortalidade real das epidemias e pandemias de gripe, deve-se às sobre-infecções bacterianas de doentes com gripe, e às descompensações de doenças crónicas de que muitas pessoas são portadoras (insuficiências cardíacas, doenças pulmonares crónicas, doenças imunossupressoras ou que carecem de tratamento imunossupressor, e por aí fora...).
Por isso, quando ouvirem ou virem escrito que o vírus da gripe A tem 100 (!) vezes mais mortalidade directa que o vírus da gripe sazonal, não emigrem logo para as Desertas.
Não é que não seja verdade, mas....
Saiba antes que estamos a falar de uma mortalidade directa de 1 em cada 10.000 infectados (ou seja, se os 10.000.000 de portugueses forem infectados: 1000 mortos), em contraponto com a mortalidade directa de 1 para 1 milhão que a gripe sazonal ostenta (e que seria, por isso, e novamente caso todos os portugueses se infectassem anualmente com essa gripe, responsável por 10 mortos, dos vários milhares que acabam por falecer "indirectamente" devido às gripes). Mas é verdade matemática: 100 vezes mais.
E saiba ainda que os números a partir dos quais se inferem estas "taxas" são, necessariamente, pequenos. No caso da Nova Caledónia francesa, por exemplo, inferiu-se tal mortalidade porque morreram 7 doentes, presumivelmente sem comorbilidades ou outras infecções DETECTADAS, entre 70.000 INFECTADOS. Por outras palavras: fraca estatística.
Em suma, quando ouvirem estes números, não se esqueçam: continua a ser, apenas, uma gripe parecida às que nos assolam todos os anos.
1 comentário:
Este é que é o verdadeiro serviço público!
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