O Estado é um ladrão. Ou, pelo menos, um filho indigente que nunca mais sai de casa para ganhar a sua independência, constituindo fonte alargada de despesa para os seus progenitores.
E os progenitores do Estado, somos nós (e não o contrário, apesar de comumente nos inverterem essa realidade no dia-a-dia).
Diz-vos isso um funcionário público que trabalha em exclusividade para esse Estado. Ou seja, que teria tudo, à partida, a ganhar com a manutenção deste estado de coisas. Mas que, por sentido ético do que devia ser a gestão da coisa pública, e por respeito pelos que produzem e financiam estes desvarios, me junto assim ao coro dos que defendem o "Estado mínimo" essencial.
O Estado gere mal a Saúde. É chocante como se poderia poupar brutalmente em consumíveis com medidas simples (que se vão tomando, por desporto -porque nada a isso obriga nos dias que correm...-, aqui e ali, num ou noutro serviço não raras vezes acusado de "excesso de zelo" por esses desvarios auto-infligidos). Os meios humanos são mal geridos; investe-se em Especialidades inúteis, e descuram-se Especialidades essenciais; retiram-se competências aos que as praticam liberalizadoramente a todos, e conferem-se competências exclusivas a quem se vai servir delas num proteccionismo para seu lucro próprio; gastam-se "Ferraris" em válvulas cardíacas inseridas percutaneamente, em stents e em CDI's, e poupa-se nos antidiabéticos orais, ou nos esfigmomanómetros dos centros de saúde e na regularidade dos rastreios; proliferam chafaricas "de excelência", que não são mais que a micro-extensão do umbigo de determinada personalidade médica, onde não são precisas para nada por serem muitas mais que as necessárias para a população que deveriam servir, e rareiam depois meios humanos (e físicos) noutros centros onde, por esse motivo, se deixa de ter acesso a determinada técnica de reconhecido benefício clínico para as pessoas sofredoras de determinada patologia (exemplo clássico: hemodinâmica de intervenção nos enfartes agudos do miocárdio, onde deve haver uns 10 centros em Lisboa e arredores, na maior parte dos quais se passam os dias a coçar... enfim, enquanto que depois mais para os lados da província se mantém um tratamento de segunda com fibrinólise ou menos que isso, com as perdas de miocárdio e de qualidade de vida subsequente por insuficiência cardíaca que isso representa...). Rodam por cargos de direcção dos Hospitais e dos Serviços encartados diversos, deste ou daquele partido ao sabor dos delírios do povo, sem exigência de resultados, sem responsabilização, sem competência, sem mérito. Instituem-se "avaliações" patéticas (as patéticas "carreiras") e que não são representativas de nada, para justificar uma ascenção na carreira pseudo-meritocrática, quando na realidade é, na melhor das hipóteses, cronológica ou por antiguidade (mas não raras vezes por "cunha" e/ou factores partidários/de simpatia clubística diversa).
Isto na Saúde....
Nas outras áreas, que não domino, vejo obrigarem-me a pagar por um sistema público de ensino que não uso porque não presta nem serve o interesse dos meus filhos (que é o de aprenderem) nem o dos seus pais (e que devia passar por deixá-los trabalhar, por exemplo), pelo que tenho que voltar a pagar um privado.
Vejo investirem em estradas portajadas por consórcios de respeitabilidade duvidosa, em TGV's, em aeroportos, em estádios de futebol, em canais de televisão, em empresas de enigmática "utilidade pública" (para lá da de nos sorverem o dinheiro), e vejo-os fazerem isso tudo como se o dinheiro fosse deles, como se o dinheiro caísse do céu, e não fosse NOSSO, do povo que cede parte do seu rendimento mensal para financiar este disparate com o qual nos habituamos a conviver, e que é o Estado.
Por isso, caros amigos, estou definitivamente rendido ao "Ultra-Liberalismo", no sentido de deixar de haver um Estado sorvedor do nosso dinheiro, e que depois o redistribui nestes investimentos ruinosos que não servem nada nem ninguém para lá dos interesses obscuros de uns quantos boys e girls que por lá se encontram (e que não têm obviamente interesse nenhum em mudar este estado de coisas...).
Admito pois que o Estado deve ser muitíssimo menos gastador (os nossos impostos devem ser reduzidos a <25% do que representam actualmente nas receitas daquele), e muitíssimo mais um mero regulador das regras fundamentais por que se devem reger os privados (a começar, evidentemente, pela Universalidade dos Cuidados de Saúde, que acredito que seriam prestados com mais qualidade -e critério- aos cidadãos, a um custo muito menor, que o sistema "gratuito" de hoje, que de gratuito, evidentemente, não tem nada...).
O problema é que, em Portugal, não tenho partido....
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