Pode vir a ter diabetes, mais se for gordo.
Pode vir a ter hpertensão arterial, mais se não tiver cuidado com a ingesta de sal.
Pode vir a ter cancro do pulmão, doença pulmonar obstrutiva crónica, doença aterosclerótica, mais se fumar.
Pode vir a ter cirrose, mais se beber álcool....
"Podem"-nos acontecer muitas, muitas coisas, algumas das quais influenciadas por variáveis que podemos controlar (influenciadas, e não determinadas; que podemos, e não necessariamente que quereremos ou iremos...).
Há uma coisa, porém, que nos vai acontecer a todos, de certeza absoluta.
Curiosamente, não parecemos minimamente dispostos em discutir as condições com que vamos viver essa inevitabilidade. Às vezes nem me parece que estejamos sequer curiosos....
E eu gostava que abríssemos a pestana antes que o meu karma me dite a chegada do tal dia, por forma a não ter que emigrar ou tornar-me criativo, mais ou menos fora-da-lei, para o conseguir passar com um mínimo de condiçoes e dignidade.
Passamos, nós médicos, o tempo a falar de saúde, em como prolongá-la, curar a doença e adiar a morte. Não estamos muito mal nesse capítulo, o caminho vai-se fazendo com todos a puxarem para o mesmo lado.
Não passamos é tempo que chegue a falar da morte, que eu fui descobrindo que anda muito maltratada por este país fora, isso quando é tratada.
Não dá prisão não tratar a morte, sabiam? Deixar uma doença potencialmente reversível seguir o seu curso sem tratamento pode ser, e geralmente é, complicado; deixar uma pessoa a agoniar horas, dias, ou até mais tempo sem -sequer- paliação adequada, é eticamente desculpado -não desculpável!-, desde que tenhamos a certeza que a cura não é possível ou "razoável".
Na dúvida damos tudo.
Na certeza acanhamo-nos, desviamos o olhar, desprezamos.
Isto faz algum sentido?
Dramaticamente, ninguém se importa. Ninguém excepto todos aqueles que passam por ela, o que a prazo somos todos, e que, por ironia, de seguida deixam de ter a voz que faltaria para a correcção desta gravíssima insuficiência.
Em nome dos vossos cuidados de saúde, daqueles cuidados que vão seguramente precisar um dia, interessem-se por suicídio assistido, por eutanásia, por testamento vital....
Sejam empáticos com os que morrem hoje, porque só assim terão alguma simpatia nesse dia de amanhã, e atenção que ele vai concerteza chegar demasiado cedo.
Interessem-se por morte.
Com dignidade.
Por vós.
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