Isto a propósito de uma mensagem que muito me entristeceu, e que recebi, por mail, proveniente de uma amiga enfermeira, que a deve ter reencaminhado para a sua lista de contactos, e da qual constava mais ou menos o seguinte: era intitulada "os enfermeiros também contam!" ou algo do género, e era o link para um vídeo acerca do irmão alucinado do Paulo Portas que, após internamento relacionado com um cancro, fez um elogio sentido à classe de enfermagem publicamente, num canal qualquer de televisão.
O que me entristeceu não foi, obviamente, o elogio não se ter dirigido principalmente ao médico que o tratou, e muito menos o facto de ter feito o elogio a essa classe que tanto admiro.
O que realmente me deixa perplexo é tudo aquilo que terá levado a baixar a auto-estima a esta representante da classe, ao ponto de publicitar o referido vídeo, como se fosse de estranhar que o papel do enfermeiro fosse reconhecidamente importante, quando eu sei que ela está cansada de saber que conta, e muito, no Serviço onde trabalha, e onde ninguém consegue fazer como ela o seu papel.
E isto leva-me a um considerando acerca da ânsia que alguma franja da classe dos enfermeiros terá na aquisição de competências diversas, que os aproximarão mais aos médicos, afastando-os ao mesmo tempo mais da enfermagem tradicional, como eu a reconheço. Essa franja deve alimentar-se dessas dúvidas que pairam sobre alguns, da importância do seu papel nos cuidados de saúde. Do seu papel tal como ele existe HOJE!
O bom enfermeiro, hoje, é quem está junto do doente, é seu amigo e confidente, seu "tratador" naquilo que temos de mais íntimo e que é a nossa higiene pessoal, é seu monitor de parâmetros vitais e o primeiro passo no reconhecimento de sintomas e sinais, o interlocutor com outros actores (como médicos) e por isso na abordagem adequada subsequente e instituição do tratamento apropriado. E isso, não é feito por mais ninguém que não ele. Nem se coaduna com registos ridiculamente extensos que preenchem o tempo de quem devia era estar junto dos que precisam dele, nem com esticar de "ratios", nem com mais esta ou aquela competência.
E porquê? Porque "isto" que devia acontecer, já é trabalho tempo inteiro, que facilmente preenche o horário de qualquer profissional de enfermagem!
Não se deve, por outro lado, confundir a desvalorização em termos salariais (e nunca de importância da profissão) da classe, com a necessidade da sua reforma. O que se passa é que não precisamos de tantos enfermeiros, e não que precisamos de novos sub-tipos de enfermeiros (idem aspas com os médicos, cuja única diferença é que se têm defendido melhor em termos de formação desenfreada de elementos no ensino Superior).
O pior que podia acontecer era termos enfermeiros com competências, logo defeitos, que os tornassem mais parecidos com os médicos, sem que com isso fossem médicos (ou tornando-se assim "médicos de segunda"), acrescendo a perda de qualidades que são exclusivas dos enfermeiros (ficando, ainda por cima, "enfermeiros de segunda"...).
Os doentes, e todos os sistemas de saúde, precisam dos enfermeiros. Destes, que já existem há muito, por serem precisos e preciosos. Julgo não ser preciso inventar nada. Apenas valorizar o que somos e temos, sem complexos infundados de inferioridade, devidos a razões que nada têm a ver com a essência da profissão em si, de nobreza imaculada.
Oxalá eu tenha um enfermeiro assim para tratar de mim um dia, quando precisar. E não um desses hi-tech que alguns estão a querer "inventar".
1 comentário:
Envio-lhe os parabéns pelo seu blog que desconhecia e será indexado aos nossos links. Aproveito a ocasião para lhe enviar um link onde comentamos as lutas de poder no SNS. Algo que retrata em parte o que aqui escreveu e dá resposta a outras dúvidas.
http://cogitare.forumenfermagem.org/2011/05/a-luta-pelo-poder-no-sns/
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