Parece que se "descobriu", através de um estudo feito em Portugal (Escola Nacional de Saúde Pública), ainda que retrospectivo e com algumas nuances metodológicas, que se morre mais nos hospitais à noite, aos fins de semana e feriados.
Nada contra, bem pelo contrário, mas perdoem-me a ingenuidade, desconhecia que se tratava de "pólvora" bem debaixo do meu nariz estes anos todos.
Sempre me pareceu óbvio, e aceite (diferente de aceitável) que isso sucedia. E arrisco: também se morre mais à sexta-feira à tarde, a nas alturas dos grandes congressos nacionais e internacionais das especialidades, nas respectivas enfermarias. E, claro, nas férias grandes, e por alturas de Páscoa e Natal. Já para não falar em fins-de-semana prolongados por feriados e pontes.
Chocados? Bem, fico sempre babado ao dar fracturantes novidades polémicas: é verdade, os médicos não trabalham nessas datas, com a excepção dos serviços de Urgência (não apenas de atendimento às do exterior, mas também as diferentes variantes de "Urgência Interna" que vão existindo). E a generalidade não tem horário nas tardes de sexta-feira, noites, fins-de-semana e feriados/pontes. E têm férias, que tentam concentrar nas alturas das férias... dos filhos (ah, pois é, muitos também têm filhos...).
Ainda arrisco, antes que outros me voltem a roubar boas ideias: as entidades prestadoras de serviços em geral funcionam pior nas alturas em que os seus recursos humanos não estão... a trabalhar. Pelo menos em full-time.
Dir-me-ão talvez que, tratando-se-de vidas humanas, tal é inaceitável.
Em primeiro lugar, não é.
Mas tal como tantas outras coisas, é passível de melhoramentos, ou optimizações. A começar pelos modelos de triagem de gravidade dos doentes, e sua adequada sinalização, pela criação de infra-estruturas suficientes de Cuidados Intermédios e Intensivos, com staff adequado (suficiente e competente), e por uma gestão cuidada dos recursos humanos, com a sua distribuição por todo o horário semanal, e, quem sabe, pelo sábado de manhã (pelo menos). Mas não será nunca como uma altura de "horário pleno normal de funcionamento".
O problema sempre foi óbvio, e agora é conhecido do "grande público" (é o mérito do trabalho).
Resolve-se muito facilmente, com dinheiro (que as infra-estruturas e meios humanos costumam custar...).
Pode ser que haja outro "Efeito de Gripe A"....
3 comentários:
Tenho a certeza de que se os doentes fossem devidamente seguidos pelo seu médico assistente durante a semana, em vez de se deixarem arrastar determinadas situações, não havia tantas mortes ao fim de semana...
EF
Está, obviamente, enganado.
A não ser que queira dizer: "(...) não haveria tantas mortes como as que actualmente se verificam no fim-de-semana".
Nesse caso, não tenho, e duvido que alguém tenha, dados que suportem tal suposição.
"(...)E têm férias, que tentam concentrar nas alturas das férias... dos filhos (ah, pois é, muitos também têm filhos...)."
Descobri em tempos que isso é uma perfeita novidade para muita gente, que acha que certas profissões não têm o direito de ter férias quanto mais de conciliar com os filhos...
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