segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Constatações e/ou Reflexões (Básicas II)

Pode ser mais ou menos acompanhada;
Pode estar mais ou menos rodeada;
Pode ser rápida ou prolongada (está a rimar, mas não é poesia);
Pode ser precoce ou tardia;
Pode ser espiritual ou pragmática;
Pode ser dolorosa ou bem analgesiada.
Mas há uma coisa, na morte não súbita, que é comum a todas as que já assisti na minha vida (e foram algumas...):
-Uma imensa solidão, a agonia da impotência, por essa sempre inesperada traição do corpo.
Pensava que bastava morfina, mas também vou querer propofol.
Tinha dúvidas dantes, mas hoje sei que vou precisar de ajuda.
Penso que a eutanásia acaba por fazer sentido para todos, a dada altura do fim da sua vida. Nem que seja nos últimos minutos.

3 comentários:

O Primitivo disse...

Um médico a que fui em tempos, segundo me lembro, sugeriu-me que "a morte é apenas um dia desagradável". Possivelmente até seja, mas só para quem parte.

Anónimo disse...

Bom dia sr doutor

Embora, muitas vezes sem me manifestar, acompanho o seu blog com toda a atenção!

Em relação ao seu post: espero que tal como diz que vai precisar de ajuda, tmabém seja capaz de prestar ajuda a quem em situação de morte continua a depender de si e das suas decisões...
Não raras as vezes encontramos médicos obstinados, mais preocupados com a sua sensação de falha, de perca do que com a vontade, o conforto e a dignidade dos seus doentes em fim de vida!
Para mim a eutanásia é uma questão muito sensivel... ás vezes não sei o que pensar, mas pelo menos o testamento vital vinha dar uma maozinha ao meu dilema.

Cumprimentos
A.Silva

Placebo disse...

Primitivo

Eu diria que o médico que lhe disse que que a morte era um "dia desagradável" lhe pintou a manta um pouco de cor-de-rosa. Um dia vai ver que não é bem assim, infelizmente....

A.Silva

Eu não confundo a minha maneira de ver as coisas com a lei vigente (até por motivos de protecção profissional e pessoal).
Nunca, que fosse do meu conhecimento, deixei alguém em estádio terminal a sofrer, e trato a morfina e o midazolam por tu.
Porém, em situações limítrofes, coíbo-me de pisar o risco, mesmo que seja essa a vontade de familiares e doentes. É que não pode ser, a medida tem que ser autorizada de cima para baixo, e não me permito atalhos nessa questão, como lhe disse, porque tenho que viver disto ainda uns bons anos.

Agora, se um dia as coisas mudarem legalmente (e vão mudar, de certeza absoluta, mais cedo ou mais tarde...), não objectarei, como muitos dizem que farão.