terça-feira, 1 de setembro de 2009

Porcalhices que vêm por bem

A paranoia veio mesmo para ficar, pelo menos até se vacinar uma percentagem significativa da população indígena.
Não querendo parecer cínico, só então se falará em "controlo" da pandemia (que dessa forma, graças a Deus, nunca terá chegado a demonstrar o carácter extremamente letal que se vaticinava nos corredores de alguns ministérios).
Não querendo ainda partilhar a fama de alguns esquizofrénicos "profetas", recorrentes nestas alturas, devo dizer que nisto do marketing, as companhias farmacêuticas não estão mesmo para brincadeiras....
Mas enfim, nem tudo são más notícias.
Aliás, devo dizer, explicando melhor, que são sobretudo tudo boas notícias, paradoxalmente.
Estou pois a antever, nos futuros meses, um "efeito euro 2004 melhorado", e passo a explicar. Dentro do despesismo dos estádios, ficou-nos do euro uma rede de cuidados pré-hospitalares sem precedentes por estas bandas (vulgo "INEM"), que seriam exigência da organização supra-nacional.
O euro lá se acabou (tenha-se ou não gostado dos referidos ritos), mas o pré-hospitalar ficou, dando novo fôlego aos cuidados de saúde, tão depauperados neste capítulo que se encontravam, e que não tinham nenhuma perpectiva de melhorar tão fulgurantemente, não fosse o melhor argumento da organização do evento.
Diria que foram-se os dedos, mas ficaram os aneis....
Agora, diria que o "efeito euro 2004" será "melhorado", porque a referida gripe histrionizante não acarretará, parece-me, despesa acrescida aos cofres públicos, para além daquela que se estão a fazer nas "medidas de contingência" para as "eventualidades" que, pasme-se, nos assolam todos os anos, para surpresa dos nativos. Mas deixemo-nos disso, já percebi que ninguém está interessado em saber que se morre que se farta de "gripe" nesta altura desde sempre.
Voltando ao tema, o que vai ficar mesmo, no SNS de todos nós, são moderníssimos aparelhos para detecção por PCR (polimerase chain reaction) de várias estirpes de agentes infecciosos muito interessantes (que não este, a não ser nesta fase inicial em que é preciso mostrar rentabilidade, e que serve de delicioso pretexto); vamos equipar as nossas Unidades de Cuidados Intensivos (e improvisar Cuidados Intermédios) com óptimos ventiladores de última geração, seringas infusoras para substituir as obsoletas, aparelhagem de ventilação não-invasiva, infra-estruturas para (finalmente...) acolher os doentes com gripe (as sazonais também, que vão continuar a acontecer), e até SAG's à discrição, que espero tenham vindo para ficar, também com regularidade sazonal. Cabe-nos a nós não deixar extinguir, no futuro, estas úteis infra-estruturas, mas pelo menos o material será seguramente para ficar.
Enfim, com um pouco de sorte, e se nenhum epidemiologista cretino se lembrar, a troco de 2 minutos de fama num qualquer canal de televisão, de me dar cabo das férias que ainda não gozei, até pode bem ser um dos melhores invernos dos últimos anos.
E para isso basta deixar os politiqueiros que estão à frente das várias ARS's por esse país fora, sedentos de cumprir as directivas dos seus "superiores" de forma completamente acrítica, com extremo zelo pela despesa que vai servir de argumento numa qualquer campanha perto de nós, abrir bem os cordões à bolsa.
A população, essa que vai mesmo ficando doente todos os anos, com aquelas doenças que a vai realmente apoquentando e matando todos os anos, agradece o esforço, independentemente do argumento que o motiva.
É caso para concluir com um: "Grip' Grip', Hurra!!!".

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