A "Experiência" está agónica.
E ainda bem.
Na minha prática clínica, sempre que fui ouvindo evocar a "Experiência", foi quase sempre pelos piores motivos, para justificar actos obsoletos ou injustificáveis, ou para pôr termo a discussões à falta de melhor motivo.
A "Experiência" é, assim a modos que, o resquício da Medicina Tradicional (que o meu amigo Choque Céptico bem retrata no post anterior...) a subsistir no organismo da Medicina Moderna, e científica. É um cancro, benigno, localizado e em vias de exérese.
Vive sobretudo em pessoas desactualizadas, por isso sobretudo naqueles com uma certa maioridade cronológica.
A "Experiência" surge quando não se conhecem as orientações actuais, e nos vemos confrontados com as "novidades". É aqui que surge a Experiência de cada qual. "Eu sempre fiz assim", e "com óptimos resultados". Eu "acho" que isto "não está suficientemente testado" para ser adoptado. "Eu (, que já tratei x casos desses,) sempre me dei bem desta maneira".
Não interessa nada que exista evidência científica em contrário, a assinalar que outro procedimento é o mais correcto. E que essa evidência científica signifique geralmente muitas "Experiências", com a vantagem de haver limites nos viés de interpretação e uma cobertura muito mais acertiva de todo o âmbito daquilo que é testado.
Ciência, no fundo. Versus a ambiguidade da opinião de cada um.
Um dia ouvi um Professor dizer, e ouvi-o com prazer, que a opinião de peritos é, cientificamente falando, um nível de evidência C. Leia-se, pior que B e A. E não existe D....
E nem todos somos "peritos".
Ou seja, venham os estudos randomizados contra placebo e duplamente cegos, e venham as guidelines com níveis de evidência.
E morte à "Experiência", de uma vez por todas.
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3 comentários:
Dizia com humor um convidado brasileiro de uma reunião:
"A medicina baseada na experiência serve para perpetuar os nossos próprios erros, enquanto a medicina baseada na evidência serve para perpetuar os erros dos outros!"
É uma frase muito engraçada, Exmo colega Felpudo, e que levanta a velha questão da validade de certa evidência, sobretudo depois de alguns escândalos acerca da manipulação de estudos por parte de alguma indústria farmacêutica.
Mas estou convencido que, em última análise, também concorda comigo quando digo que os erros dessa evidência que falamos, por estarem publicados para todos atestarem da sua fiabilidade, são erros muitos mais controlados que aqueles que se cometem na privacidade do dia-a-dia, perante quem seguramente nunca nos irá confrontar com os mesmos (por não estar habilitado para tal).
Mas é mesmo uma bela frase... :)
É obvio que concordo com o post, assim como com a generalidade do blog...
Os meus parabéns!
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