quinta-feira, 22 de março de 2007

Antibióticos

As razões da prescrição de antibióticos dá pano para mangas. Tendo sempre como pano de fundo o surgimento de resistências bacterianas, outras vezes questões economicistas, tratando-se pois de fármacos de grande consumo.
Em primeiro lugar, as resistências. Não é tanto a prescrição de um antibiótico numa indicação duvidosa que constitui o maior problema de saúde pública em termos de emergência de resistências. Claro que o risco existe, mas também existe o de uma situação aparentemente viral ser afinal bacteriana, com consequências nefastas para a saúde do doente. Muitos, na dúvida, pecam por excesso. E o excesso é a prescrição de antibiótico, face à alternativa de "confiar" na virose.
Porém, o mais grave a meu ver é o de prescreverem-se mal os antibióticos. Por um lado, não se darem aqueles que melhor cobrem o espectro bacteriano mais susceptível de provocar determinada patologia. Curiosamente, nesta área arrisca-se muito na novidade, descurando-se demasiado o adquirido. Só isso explica os números que atingem as quinolonas no nosso mercado, outrora as cefalosporinas e os macrólidos. Claro que por detrás disso está a propaganda daqueles a quem interessa vender essas "pseudo-panaceias", tristemente eficaz numa classe que não lhe está de todo imune, como se pode bem ver.
Isto quando a penicilina oral, vulgo amoxicilina, ainda trata tão bem ou melhor 90% da patologia bacteriana do ambulatório (número inventado, mas que não deve andar longe da realidade) do que esses outros.
Por outro lado, continuando na senda da causa das resistências, está o desconhecimento da farmacodinâmica de cada classe de antibióticos, e na prescrição de doses ineficazes, que não "matam" a bicheza, apenas seleccionam as estirpes mais resistentes que assim encontram caminho livre para uma triunfante caminhada rumo a manchetes de jornais. Fracciona-se ainda, nos tempos que correm, as tomas de aminoglicosidos. Insiste-se ainda, nos tempos que correm, nos 2g, ou até no 1,5g/dia de amoxicilina. Para só falar nestes dois casos, destacados pela frequência com que ocorrem.
Ou seja, para leigo perceber, o mal maior não está no dar-se antibiótico quando esse não é preciso, mas sim em dar-se mal o antibiótico, ou ainda em dar-se o mau antibiótico, quando esse é realmente preciso. É sobretudo nesses casos que surgem as resistências.

2 comentários:

Anónimo disse...

Parabéns pelo blog! Muito bom :)

Placebo disse...

Obrigado, Exmo leitor