sábado, 24 de abril de 2010

VIH

Já não está na moda, o VIH.
Já foram tempos, agora passou.
O VIH tem o condão de ser aquele vírus que, actualmente não matando de forma tão evidente, cada vez mais controlado com terapêuticas relativamente eficazes que transformaram a infecção em doença crónica (ou pelo menos muito prolongada), mantém uma vocação fracturante das vidas que afecta (e infecta).
Para quem começou a trabalhar no tempo em que a coisa significava uma sentença de morte, em gente até então saudável e muitas vezes jovem, ainda me vou espantando, sempre que encontro alguém quedo e mudo pela doença, com uma das suas complicações intercorrentes, e que em geral são apanágio apenas, hoje em dia, de indigentes toxicodependentes ou de surpreendentes primo-infecções (doentes que descobrem pela primeira vez que estão infectados).
Pergunto se desconhecem do carácter que actualmente se atribui à doença, mas eles até sabem, alguns inclusive desconheceram a fatalidade da coisa que ainda me assombra a memória.
Mas não estão assim apenas pelo carácter crónico da doença, deprimidos e sem vontades.
Estão assim pela culpa. Pelo descuido na contracepção física de uma aventura afinal mais marcante que o esperado, muitas vezes pela infidelidade concomitante, pela envergonhada (ou desavergonhada) homossexualidade assim punida, pelo contágio inconsciente de "inocentes", pelo divórcio, pelo afastamento de família e amigos, já não com medo do vírus, mas a maior parte das vezes pelo desprezo e repúdio das circunstâncias que levaram à sua aquisição.
É um vírus que já não mata tanto, mas que ainda vai moendo, deveras, muito boa gente....

1 comentário:

Luz disse...

"repúdio das circunstâncias que levaram à sua aquisição"

Há uma situação que me repudia. Os idosos.
Perdoem-me mas ver pessoas com idade em que deviam estar tranquilas, descobrirem que têm VIH porque o marido (por vezes mulher, mas julgo que a outra situação é mais comum, corrige-me se estiver errada) resolveu ir dar voltinha à esquina...
Os novos... esses é mesmo estupidez pura. Não tenho repúdio, apenas lamento o conceito tuga do "isso só acontece aos outros".

LUZ