Há coisas com piada em Medicina.
Num incontornável infantilizar das nossas pessoas, qual o médico que pode negar ter esboçado, pelo menos, um sorriso nos primeiros contactos com técnicas de exame tão respeitáveis quanto o toque rectal? Em pessoas bem humoradas como eu, colonoscopias, endoscopias digestivas altas, e coisas tão esotéricas quanto anuscopias, ainda aqui e ali me levam a ter que recorrer aos meus mecanismos de defesa, e que consistem naquele papel que desempenho a partir do momento em que visto a bata e que devo ter visto numa qualquer série de TV.
Imaturidade? Talvez, mas incontornável, escusam de disfarçar.
Aliás, porque razão não haveria de ser assim? Aquelas coisas que escondemos de todos durante tantos anos deveriam subitamente ser, de uma forma natural, expostos e do domínio público sem que isso nos afectasse?
Como explicar a uma pessoa do sexo masculino, que vai a um Serviço de Urgência com uma febre e dificuldade em urinar, que é pertinente enfiar-lhe um dedo no cu? E como orientá-lo na prossecução da técnica? Aceitam-se sugestões, mas a minha abordagem é aquela em que subentendo, pela minha firmeza nos actos, que aquilo é a coisa mais natural do mundo. Resulta: "bem, vamos ter que fazer um toque rectal para excluir que não tenha uma prostatite aguda. Faça lá então o favor de se ajoelhar na marquesa. Muito bem, tem que baixar as calças... as cuecas. Perfeito! (...)". A partir daí é fácil.... Está o doente ainda a tentar conceber o que será uma "prostatite aguda" quando lhe digo para se pôr de joelhos, está ele inconformado pelo facto de se ter lembrado de ir ao médico com aquelas queixas e já está com o rabo exposto, e quando começa a pensar seriamente em levantar-se e fugir dali, está o exame acabado.
Continuando na senda de desabafos relacionados com o tema, que atitude adoptar perante simulacros de torturas medievais, tais como endoscopias digestivas altas, em que num desgraçado perdido de vontade para vomitar por o estarmos a induzir com uma mangueira pelas goelas, através da qual, simpaticamente, injectamos quantidades industriais de ar no tubo digestivo que levam a arrotos incoercíveis? Ou as colonoscopias, em que a mangueira tem 2 metros e calibre respeitável, o doente está em posição ginecológica, vai tendo as dores decorrentes das angulações mais ou menos fáceis de se fazerem pelo cólon acima, culminando na saída, que todos tentam contrariar em vão, do ar que, mais uma vez, se injectou lá para dentro para se conseguirem ver as estruturas?
Caros leitores, lamento a desmitificação, mas tem mesmo piada.
Atenuantes?: calha a todos!
1 comentário:
Ri-me tanto! Obrigada pelo momento!
Enviar um comentário