Morreu agora um menino infectado com o vírus da Gripe A.
Morrem todos os anos alguns, com os parentes desse vírus, infelizmente, e que ninguém se atreva a procurar justificação ou justiça nisso.
Mais que a natural não-conformação dos pais, em luto, talvez no pior que se pode conceber, importa realçar a irresponsabilidade jornalística, mas enfim, procurar responsabilidade no Jornalismo de Hoje faz o mesmo sentido que defender as florestas no Sahara.
Acima de tudo, o supremo engano, que alguns colegas meus desgraçadamente parecem insistir em promover: o de que o oseltamivir (vulgo, Tamiflu (r)) evita o que quer que seja, cura o que quer que seja, previne o que quer que seja, apesar da inexistente evidência de tais factos.
Há uma recomendação, e ela deve ser cumprida, mas baseada em duvidosos critérios de "probabilidade de eficácia", NÃO demonstrada nunca, ainda, em estudos randomizados duplamente cegos, contra placebos (e por placebo importa salientar a importância de comparar essa molécula a tratamento sintomático com anti-inflamatórios e anti-piréticos!), ao mesmo tempo de um confortável grau presumido de "boa tolerância".
Presunções, e quem se dedica a esta profissão deveria ter tento na língua antes de insinuar que fulano infectado com H1N1 "devia" ter tomado essa molécula, e que essa molécula "teria" evitado o que quer que fosse.
Para os pais, que não conseguem (porque não) filtrar essa informação, obviamente que tal notícia tem o condão de dirigir indignação e raiva contra aqueles que, desprotegidos nesta palhaçada mediática em que vivemos quanto a este tema, acabam depois por ver manchada uma actuação em princípio sem mácula (pelo menos quanto à não administração da molécula, ou das consequências que isso teve no prognóstico verificado).
Por outras palavras, morreu uma criança, e a criança estava infectada com o H1N1.
O que sabemos mais?
-Não sabemos porque morreu;
-Não sabemos o que poderia ter sido feito para evitar a morte (seguramente que não oseltamivir, mas essa é uma pedagogia que, de tão embrionária, me parece condenada ao aborto...);
-Não sabemos se teria sido razoável ter outra atitude na fase em que foi inicialmente observada pelo Serviço de Pediatria do HSFX (e por razoável entende-se: reprodutível a todos os casos no futuro).
Sabemos que morreu, e que isso foi dramático.
Devem-se procurar respostas, as causas, para se melhorar no futuro, se possível, e esclarecer a população.
O que não se devia fazer, seguramente, era aproveitar de forma rapina este drama para vender papel. Mas a vergonha na cara, infelizmente, não queima.
Os meus pêsames a quem está de luto.
Mas também a minha solidariedade aos profissionais que estão enredados nesta polémica, pelo menos até que se apurem eventuais culpas, de má prática (que NÃO o não ter prescrito aquele placebo!) ou de negligência.
Mas isso vai ser bem investigado, podemos estar descansados quanto a esse ponto, resta saber se vamos conhecer as conclusões. Arriscar-me-ia a dizer que não, já que essas, provavelmente, não deverão ser nada mediáticas.
Mas cansa-me, esse remake insano dos nossos tempos....
3 comentários:
Já de férias?
Ass Fã n 1 heheh
MAS - Movimento Acção na Saúde
http://accaonasaude.blogspot.com
Terminou mais um ciclo eleitoral. Nas legislativas, o PS perdeu mais de meio milhão de votos e 23 deputados, sendo chamado a formar governo, agora sem maioria absoluta. Este desgaste eleitoral significativo expressa de forma distorcida a acesa contestação social que marcou o anterior governo. Lutas sucessivas de milhares de funcionários públicos - com destaque para os professores - de milhares de trabalhadores de empresas do sector privado, que fecharam ou ameaçaram fechar e as contestações populares ao encerramento de maternidades, centros de saúde e emergências hospitalares traduziram-se nalgumas das maiores manifestações desde o 25 de Abril, mas foram insuficientes para derrotar definitivamente Sócrates. Para tal contribuíram a estratégia das direcções sindicais, que não só advogaram “tréguas eleitorais” como assinaram vários acordos vergonhosos com o governo, bem como das forças à esquerda do PS que abdicaram de construir uma plataforma unitária que surgisse como alternativa real de governo. Assim, Sócrates mostrou aos eleitores que a opção era entre ele e Ferreira Leite e Manuel Alegre aproveitou para apelar ao voto no PS, impedindo a perda de votos de um importante sector crítico que representava.
O novo Sócrates é igual a si mesmo, não nos iludamos. Na educação, Isabel Alçada já afirmou que não alterará o estatuto da carreira docente ou a avaliação dos professores. No trabalho, Helena André - profissional sindical desde os 21 anos – fez prontamente saber que não será a ministra dos sindicatos e que “o anterior governo lançou uma série de políticas muito importantes" e que essas bases têm de ser consolidadas, estando fora de questão a revogação do Código do Trabalho. Quanto à saúde, a substituição ministerial já se tinha dado na anterior legislatura, não para mudar de políticas, mas para travar a contestação. Até o ex-Director Geral da Saúde, Constantino Sakellarides, afirmou: “Há ministros do núcleo duro e há ministros simpáticos para apaziguar o povo. E a ministra da Saúde faz parte destes.” “Todas as reformas do Correia de Campos continuaram com um ritmo próprio da segunda parte do ciclo político.” Que é como quem diz, só não avançaram mais no ataque aos trabalhadores e aos utentes do SNS porque tinham de acalmar os ânimos e preocupar-se em ganhar as eleições novamente.
Mesmo sem maioria absoluta, Sócrates tem nas bancadas à sua direita muitos interessados em sair da crise à custa dos tabalhadores e do desmantelamento dos serviços públicos, que apoiaram as suas medidas neste sentido. A nossa resposta terá de ser de forte oposição desde já, sem tréguas. As direcções sindicais devem organizar a luta contra o código do trabalho, pela reposição de direitos na Segurança Social, pela redução do horário máximo semanal para as 35 horas, sem redução de salário, para combater o desemprego. Devemos também, desde já, pressionar os dirigentes sindicais e mobilizar-nos para que as nossas carreiras não sejam feitas à medida do governo, nas mesas de negociações, mas que traduzam melhorias nas nossas condições de trabalho. Com este governo já tivemos más experiências que cheguem.
Placebo, tá tudo bem consigo? Não nos deixe sem o seu efeito nestes tempos conturbados!
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