terça-feira, 20 de outubro de 2009

Envelhecer

Envelhecer lúcido é desiludir-se das ilusões da adolescência, acomodar-se, perceber que esta vida não tem por fim último a felicidade, mas sim a morte, e que depois dela nada vem; que o conhecimento é uma satisfação pessoal, e não um privilégio ou uma bênção; que a memória, finita, é a única coisa que merece ser alimentada com alguns momentos de carinho, e com pessoas com significado (ou "amor", se quiserem...).
Envelhecer valorosamente é aceitar isso, acreditando poder mudar algumas coisas, percebendo que não se virá a mudar o essencial nunca; em nome de princípios de bem.
Envelhecer iludido é não aceitar isso, abraçar o efémero e a moda extraindo deles passageira felicidade, passar pelo essencial sem o perceber ou aperceber; confrontar-se com a morte com ridícula surpresa; aceitar o religioso e sobrenatural por não se conseguir conceber enquanto ser finito; nunca se aperceber da sua gigantesca irrelevância neste gigantesco tabuleiro de xadrez, onde não passamos de um milionésimo de grão de pó, poluente, aos pés de um qualquer peão.

1 comentário:

bla disse...

Que restará ao ser humano se não viver de ilusões?
Denoto que procura encontrar um significado para a vida (ou morte)... Também eu