A família de uma mulher grávida do Carregado, cujo funeral se realizou no domingo, pretende mover uma acção judicial contra o Hospital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, por alegada negligência na morte da familiar, mas hospital contrapõe.
"Vamos até às últimas consequências, até perder as forças", relatou à agência Lusa Inês Baptista, irmã gémea de Alexandra Alves Baptista, de 31 anos de idade, que faleceu na quinta-feira, "A autópsia acusou que ela tinha uma hemorragia hepática e uma eclâmpsia, mas para mim não chega", disse a familiar, que admite recorrer aos tribunais.
Inês Alves Baptista não compreende como a irmã faleceu, após passar "de uma hora para a outra" a sofrer de lesões hepáticas que lhe "rebentaram o fígado", quando não tinha quaisquer antecedentes clínicos e uma vez que "se fosse doente as análises que tinha feito há uma semana acusariam".
Contactada pela Lusa, a directora clínica do Hospital Reynaldo dos Santos, Ana Alcasar, ainda sem conhecer o resultado da autópsia, revelou que, numa primeira avaliação preliminar efectuada ao longo de segunda-feira, "não terá havido negligência por parte dos profissionais", mas a unidade hospitalar vai abrir um processo de avaliação interna, como acontece "sempre que há uma morte inesperada", no sentido de apurar responsabilidades.
Alexandra Alves Baptista, grávida de 31 semanas, deu entrada na quinta-feira pelas 10:30 no hospital vila-franquense com tensão alta a 15/8, onde ficou internada, tendo sido a segunda vez que recorreu à unidade (da primeira vez sentiu também contracções) devido a problemas de hipertensão, causada por um alegado nervosismo resultante da morte de um familiar.
Foram administradas duas injecções para controlar a tensão, após receber medicação oral que não surtiu efeito (em vez de baixar, subiu a tensão para 22/12).
"Não sei que injecções eram, mas dez minutos depois a minha irmã começou a piorar, queixando-se de dores mesmo muito fortes na barriga e nos rins, estava cheia de suores, aos vómitos e a querer revirar os olhos", contou Inês Alves Baptista, numa altura em que a tensão já tinha descido para 10/5.
Por parte do hospital, "não há uma relação causa-efeito", explicando que os problemas de hipertensão com alterações no sistema renal (eclâmpsia) são "frequentes" no fim da gravidez, mas neste caso o problema "desenvolveu-se de forma mais ou menos abrupta".
Face ao estado clínico reservado, os médicos decidiram transferi-la para o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, a fim de retirar o bebé de dentro da mãe e colocá-lo na incubadora, já que o Hospital Reynaldo dos Santos apenas dispõe de incubadora a partir das 34 semanas.
O agravamento da situação clínica obrigou os bombeiros a regressarem para trás [ quem deu a ordem?] de modo a antecipar a operação, conseguindo tirar ainda com vida o recém-nascido, que acabaria por morrer minutos depois.
No momento da intervenção,"surgiu um problema porque ela estava com uma hemorragia hepática", contou Inês Alves Baptista, recebendo a informação do médico de que a sua irmã teria de ser reencaminhada para o Hospital Curry Cabral, para ser submetida a um transplante de fígado.
Após dar aí entrada às 22:00 horas, acabaria por falecer meia-hora depois devido a uma hemorragia hepática e a uma eclâmpsia, segundo o resultado da autópsia, deixando duas filhas de sete e nove anos de idade.
"Se ela estava com dores, se tinha a tensão alta desde há uma semana, porque não a mandaram logo para o São Francisco Xavier?", questiona a familiar, para quem "tem de haver um culpado".
O Hospital Reynaldo dos Santos aguarda agora pelos resultados do processo de averiguações, que deverão ser conhecidos dentro de quinze dias, remetendo mais explicações para essa altura.
Diário Digital / Lusa "
As reacções são de difícil controlo, mas de fácil explicação. Apesar de toda a gente o saber em teoria, ninguém está realmente preparado para os seguintes factos:
-Hoje em dia ainda se morre;
-Morre-se, mesmo que se seja criança, adolescente, mãe ou pai jovem, grávida, excelente pessoa, humanista, ...;
-Por vezes, por mais que essa pessoa seja (bem) assistida, morre na mesma.
Não sei o que se passou nesse Hospital e relativamente a essa senhora, mas sendo médico assolam-me inúmeras dúvidas quanto ao caso em particular. É uma situação delicada, para quem o dia-a-dia constitui-se de questões apesar de tudo parecidas,e que felizmente para todos nós acabam por resultar num "bem maior". Seja como for, sei o suficiente para, em atitude de "douta ignorância" dos factos, me escusar de falar sobre aquilo que desconheço.
Mas de duas coisas tenho a certeza:
1º: Devia ser considerado criminoso que, no rescaldo de uma situação traumatizante como esta, se entrevistem familiares que, por razões óbvias, não têm o estado de espírito ideal para emitir uma opinião ponderada sobre a matéria; esta é a altura inicial do luto, da negação e do inconformismo com a perda, e devia ser mais respeitado por aqueles que, com menores escrúpulos, imediatamente aproveitam as emoções mediatizadas para fazer subir um pouco mais o share da empresa privada para quem trabalham (ou as publicações, não interessa).
2º: A indignação e a desolação, são, mais que um direito, uma fatalidade para todos os que conheciam a vítima. O que não é sinónimo que exista, necessariamente, um "culpado".
Porque, e por menos preparados que possamos estar (cada vez mais) para aquilo que outrora era uma evidência, sim meus senhores, morre-se.
Morre-se sempre, e morre-se sempre mal.
O que distingue estes casos de morte precoce, no fundo, é que fica mais gente, e durante mais tempo, com saudades. É que não dá para desviar o olhar. É que não se trata de gente arrumada na prateleira dos excedentários da vida.
Aos 70 aninhos já ninguém se importaria muito com esta perda, em circunstâncias semelhantes.
Aos 80 até seria um alívio.
A morte é dura. E a vida não chega para nos prepararmos para ela, a nossa e a dos que amamos.
3 comentários:
Verdade, verdadinha!
A Medicina é um "negócio" fraudulento. O "produto" que os "clientes" procuram, não existe: a imortalidade
Bem dito, SG.
Mas só é fraudulento se o "produto" vendido tiver a pretensão de ser a imortalidade (por parte do "vendedor"), e não apenas aquilo que os "clientes" procuram....
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