segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Coisas de que se fala pouco


... e nas quais bem se podia poupar uns trocos:

-Para quê fingir que se previne a aterosclerose procurando avaliar, e depois atingir metas de LDL-colesterol ou de pressão arterial sisto-distólica com fármacos muitas vezes caríssimos, quando o doente não deixa de fumar, de ser sedentário ou de ter uma dieta desregulada?

-Para quê continuar a "tratar" doentes suicidários após as suas tentativas de autólise, ao invés de abordar o suicídio atempadamente e descomplexadamente em toda a sua componente sócio-psicológica, proporcionando como parte integrante dessa abordagem, aos que o pretendem, a possibilidade do suicídio assistido?

-Para quê tratar neoplasias em estádio terminal, sem possibilidade curativa, em doentes com má qualidade de vida (devidamente avaliada), gastando rios de dinheiro em esquemas de quimioterapia tão inovadores quanto fúteis, ao invés de instituir muitas vezes uma paliação eficaz e, já agora, não apenas atenuar o sofrimento, como ainda encurtar o mesmo, sempre que o doente o deseje?

-Doentes sem vida de relação devem ver as suas doenças agudas intercorrentes abordadas até que nível de investimento, em meios e recursos médicos? E doentes portadores de doenças crónicas em estádio terminal?

O mais fácil é dizer que é mais "humano" fazer-se tudo o que se pode por todo o ser em status de "vida cerebral". É fácil, mas não é sério, nem inócuo. E vai-se sabendo cada vez melhor que, afinal, isto do SNS é caro, muito caro, e que os recursos e orçamentos são finitos, pelo que haverá futuramente a necessidade de se orientarem verbas mais num ou noutro sentido (e nunca em "todos" os sentidos...).

A grande questão é: serão os médicos e outros profissionais de saúde capazes de, como seria em princípio lógico pensar, gerir esse processo de racionalização e redistribuição dos meios, proporcionando-lhes uma sensata lógica, ou será necessário vir um burocrata qualquer sem conhecimentos no meio impôr metas a partir das quais todos comem na mesma medida?

Julgo que a resposta é, e continuará a ser, a mais triste das duas....

1 comentário:

Maria disse...

Não poderia estar mais de acordo.
Felismente já muitos profissionais de saúde (alguns medicos e muitos enfermeiros)já pensam desta forma e actuam nesse sentido, mesmo que as coisas e atos não sejam "ditos" com todas as letras.
Para mim "ser mais humano" é, na maior parte das vezes, olhar para a pessoa e familia como um todo e não como um orgão ou doença.