sábado, 8 de maio de 2010

Isto, Afinal, Nem É Assim Tão Mau

Pelo menos é a sensação que fica depois de se ver um romeno, destes a trabalhar ilegalmente em Portugal, internado por doença hematológica maligna, com prognóstico fechado.

Não é tão mau, em primeiro lugar porque teve a possibilidade de ver o seu problema identificado. Ficou doente, foi internado, foram-lhe efectuados sem restrições todos os exames diagnósticos necessários, desde análises simples, exames serológicos e culturais para identificação etiológica da sepsia que o atormentava, mielogramas com imunofenotipagem para o diagnóstico definitivo da doença de base. Tudo somado, fica bastante caro.

Não é tão mau, sobretudo porque teve a possibilidade de ser tratado. Só para dar um "cheirinho" muito ao de leve dos valores envolvidos, os anti-fúngicos administrados custam uma quantia próxima dos 1500 euros diários. Um ano, mais coisa menos coisa, de salário médio no país dele. E disse anti-fúngicos. Não disse custos de internamento em enfermaria e UCI, dos restantes antibióticos, do material de cateterização, entubação, ventilação, dos custos dos exames de monitorização diária (imagiológicos, analíticos, ...), da quimioterapia que ele há de precisar se tudo (desejavelmente) correr bem, eventualmente do transplante de medula óssea em unidade hematológica diferenciada....

A família, culta e bem intencionada, veio do seu país para vê-lo, com muito sacrifício financeiro, na fase mais crítica, e com a intenção de o "levar para casa". Perguntaram, ingenuamente, quanto é que "nos deviam". Só consegui sorrir. Resumo este aparte dizendo apenas que, espontaneamente, decidiram deixar o senhor quieto em Portugal por mais uns tempos.

Na Áustria, os anti-fúngicos que usamos não existem para uso Hospitalar. Os que há por lá são substancialmente mais baratos, em troca de efeitos secundários potenciais consideráveis. Em muitos países, um doente assim nem entrava no Hospital, e se por acaso entrasse nunca entraria numa unidade diferenciada (destas que presta cuidados "caros"), muito menos faria exames sequer parecidos ao efectuados aqui. Dos tratamentos já nem falo....

É também por isso que somos (relativamente) pobres. Mas, se fosse só por isso, eu até diria: bendita pobreza!

1 comentário: