Uma adenda a um post recente do MEMAI, no seu excelente blog, que já é referência na área da saúde em Portugal.
E para criticar, no fundo, a sua posição sobre a "posição pública" (chamemos-lhe assim) da corporação médica sobre a "política do medicamento" (chamemos-lhe também assim).
Essa posição assenta basicamente no pressuposto que cada médico tem formação (e/ou "intuição científica") suficiente para se pronunciar sobre se determinado genérico é ou não tão activo quanto o medicamento de marca que lhe deu origem (e com o qual se fizeram os estudos/ensaios clínicos).
Concedendo-se no óbvio, que é o de ter apenas a "certeza absoluta" que o efeito pretendido só é assegurado pela própria substância que foi estudada, já, a meu ver, deduzir que um determinado equivalente (dado como tal por uma instituição, o Infarmed, que deverá ser competente nessa assumpção) "pode não ser" tão bom quanto a molécula que deveria copiar (por não ser de facto igual, ou pelo excipiente ser diferente, ou pela forma galénica, não interessa) é, evidentemente, lírico.
Ou seja, no mínimo, somos tão incompetentes quanto o Infarmed para assumir isso, com espírito científico que ultrapasse a "experiência" clínica (e quem já me lê há algum tempo conhece o meu "asco" pela terminologia em causa).
Tenho pena que continuemos a chafurdar, pois, neste lamaçal dos interesses das companhias farmacêuticas, na qual os farmacêuticos agora sonham bezuntar-se todos também, empurrando-nos para fora do mesmo, ainda que digam apenas querê-lo partilhar.
Colegas, antes de se indignarem com a óbvia pusilanimidade do presidente da ANF acerca dos seus "altruistas" interesses quanto aos bolsos dos pobres portugueses (que me fariam rir mais se não fosse levado a sério por alguns proto-jornalistas da praça), que ele desta forma pretende despojar um bocado menos, devíamo-nos envergonhar era com a nossa própria atitude, em não nos desmarcarmos de uma vez por todas deste esgoto interesseiro que é o das companhias farmacêuticas, empresas que competem entre si como razão de existir (e legitimados pelas "regras" mercado), e de uma vez por todas prescrever unica e exclusivamente por denominação comum internacional (DCI). Depois, a marca respectiva, que o estado decidisse como bem entendesse.
Ou que outro qualquer, que não o estado (se quiserem pode ser o Sr da ANF), decidisse, mas não nós, se não quisermos ser porcos iguais, e do mesmo lamaçal.
Está bem que podemos argumentar que a motivação de um médico na dádiva de um determinado remédio ao doente sempre é melhor, ou não tão má, quanto será a de um farmacêutico.
Que temos mais "princípios", ou mais "ética", mas lamento, acho que o povo, esta turma da pré-primária a quem nos pensamos dirigir quando debitamos essa incongruente prosa, não engole o argumentário. E ainda bem, deve estar mais inteligente, o povo.
Em suma, se queremos rir-nos da indignidade de certas aves raras (como esse patético Sr da ANF que há tanto tempo pertence ao anedotário nacional, esse Valentim de meia-barba, essa Fátima Felgueiras travestida, esse Isaltino de candura, esse Pinto da Costa de honestidade, enfim, esse esperto e rico self-made man à portuguesa...), devemos antes dignificar-nos a nós próprios.
Depois, e só depois, poderemos criticar com propriedade os outros porcos, que não nós, no seu lamaçal, que não o nosso.
Até lá, sinceramente, sugiro que nos calemos.
1 comentário:
E, que posso eu dizer, senão dar-lhe os parabéns pelo post? Parabéns. NA
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