Estou desinspirado de temas médicos (a precisar de férias, portanto...).
E por isso vou simplesmente desabafar.
E em 1º lugar, nesse capítulo que se afigura longo de "desabafos", sobre aquelas alminhas irritantes que gostam de circular na faixa do meio.
Confusos? Não, não é metáfora: auto-estradas de 3 faixas, ou afins, e aquela malfadada faixo do meio.
O condutor luso (resisto às aspas em "condutor") baralha-se, nessas circunstâncias.
E, o que já se provou ser extremamente perigoso, teoriza: "a faixa da direita é para os camiões" afirmam uns; "a faixa da direita é para quem vai sair na próxima escapatória", clamam outros; ou ainda, um dos meus preferidos: "daqui a "pouco" -podendo pouco significar mais de uma dezena de quilómetros- ficam só duas faixas, e a da direita desaparece"; ou, melhor ainda : "vou ultrapassar aquele veículo, sabes, aquele pontinho escuro lá na frente, e por isso meto-me já na faixa do meio para que, daqui a meia hora quando chegar perto dele, se entretanto o mundo não tiver acabado num desastre climático qualquer, não ficar aflito e ter que, imagine-se, desacelerar enquanto outro me está a ultrapassar naquele momento, o que significaria eventual perda de balanço para o resto da viagem, já para não falar na eventual necessidade de uso dos travões!".
Mantendo-me na ludicidade deste fascinante tema, uma das coisas que mais gosto nas estradas são aqueles sinais luminosos que dizem: "Circule pela Direita". Alguém já fez um estudo custo-benefício de tal mensagem?
Além da óbvia inutilidade do texto (que implicaria poder de leitura das animálias e ausência de interpretação delirante, exemplificada supra), seria talvez mais proveitoso usarem algumas das câmaras que há por aí espalhadas, verem através delas (para que servem, ao certo?), e presentearem os condutores "do centro" com a respectiva contravenção, bem nos seus domicílios. E poderiam usar os placards para outras mensagens igualmente importantes, como por exemplo "acorde!" ou "não dispare armas de fogo contra o carro do lado!". E porque não outras com a mesma riqueza semântica com "use o pedal do meio para travar", ou "lembre-se de abrir o vidro antes de atirar a beata para a estrada"....
Sou um pouco obsessivo-compulsivo, dizem. Daí que reconheça que haja algum ódio que tem crescido em mim ao longo dos anos relativamente a este tema, que começou por ser mero incómodo ou incompreensão (tipo os fulanos que estacionam nas pracetas pedonais, em frente às portas dos seus prédios, mas iremos a esses noutro post desinspirado no futuro...), e que uma faceta irracional cada vez mais importante me invade quando falo dele.
Na estrada, lido com o problema como em tudo na vida que me enjoa e que desisti de conseguir mudar, ou sequer melhorar.
Comecei pela abordagem pedagógica, aproximando-me na faixa da direita do energúmeno da faixa do meio, abrandando, passando para a faixa do meio, fazendo sinais de luzes ou dando uma apitadela, e depois de bem convencido da provável estupefacção da almôndega da frente, face ao energúmeno (vulgo eu próprio) que estava a chatear por detrás (não me apercebendo estupidamente da existência de uma outra faixa mais à esquerda...), lá ultrapassava, algumas vezes presenteado com um manguito pelo caminho.
A abordagem seguinte foi a do "estou-me a borrifar para esses tipos". Ia pela direita, e continuava pela direita, ultrapassando os representantes da espécie em vias de constante propagação. As reacções foram diversas, desde a mais absoluta indiferença (tipo "cada qual tem o seu caminho a seguir"), passando por sinais de luzes ou buzinadelas (tipo "olha-me aquele selvagem a ultrapassar-me pela direita!"), até às furiosas guinadas para a direita na tentativa de me abalroar (do género "pensas que passas por aí, é!? Ilegalmente!!!"). A excepção é, perante a aproximação, a reconhecida culpa com pisca para a direita para se poder ultrapassar como o código manda.
O meu instinto de sobrevivência aconselhou-me, entretanto, a viajar pela direita, e a cruzar duas faixas para ultrapassar, voltando a fazer trajecto em sentido inverso uma vez concluída a ultrapassagem, sem ruído nem sinais. É que não vale a pena, já me confundia a mim próprio com aqueles sinais luminosos que falei antes, e soava a fútil ou excêntrico.
O próximo passo será juntar-me ao grupo endémico de hipotiroideus da estrada, e ficar-me pelo centro também.
E juro que não vou tomar levotiroxina!
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