Como se vê por esse gráfico, não estamos, em média, assim tão mal de médicos.
Com mais 10.000, ficamos igualados aos recordistas gregos.
A questão, que não se quer ver, e que (mais importante) ninguém vai querer ver, quanto mais resolver, não é de números per capita. Antes fosse.
Formar médicos a granel, a partir do início da década, vai resolver o problema (e será que é um real problema?) da despesa que se tem com o salário dos médicos. A custo, claro, como tem qualquer liberalização de acesso a uma profissão (e temos vários precedentes no país), da qualidade.
Mas isso não interessa discutir agora, antes que me comecem a acusar de corporativismo....
Os reais problemas são:
-1º: A gestão dos recursos de saúde; a auto-gestão, entenda-se: "carreiras", foi desastrosa, e culpada de abusos corporativos diversos no passado; a infantil "liberalização" que se lhe seguiu, associada a uma relativa falta (ou inexistência de excesso) de médicos, levou a uma inflação dos serviços e a uma "mercenarização" de vários profissionais, que passaram, por troca com a perda de regalias que dantes usufruiam no sistema público, a exigir compensações financeiras disparatadas, que por falta de alternativas em meios humanos lá acabaram por ir sendo satisfeitas, em maior ou menor grau. Estratégia (des)governativa desastrosa, está-se a ver, cujo preço ainda estamos a pagar todos.
-2º: A questão geográfica. Uma falsa questão. Não há maior carência de médicos no interior que no litoral; estão é igualmente mal geridos, e no litoral há mais alternativas, e mais meios, pelo simples facto de estarem lá, em termos absolutos, em maior número (ainda que, per capita, a diferença não seja assim tão escandalosa, excepto em algumas regiões de excepção).
-3º: A questão da Especialização. Essa sim, uma verdadeira questão. Há médicos a mais em certas especialidades, e a menos noutras; não se rentabilizam as especialidades mais povoadas com competências específicas, antes fazendo destas património restrito de certas quintinhas; há especialidades "inúteis" (Endocrinologia; Reumatologia; Infecciologia...); há especialidades desmotivantes (Medicina Familiar); há especialidades técnicas que se "desperdiçam" em actividades assistenciais (Gastrenterologia; Cardiologia; Pneumologia; ...); as especialidades assistenciais "desperdiçam-se" em actividades burocráticas e de secretariado, e/ou desgastam-se em trabalho de sapa indiferenciado nas Urgências (Medicina Interna; Pediatria; Cirurgia Geral; Ortopedia; ...).
Mas isso, por outro lado, é complicado de resolver. Seria preciso uma "estratégia". E as estratégias, as boas, as verdadeiras, não são apanágio do nosso rotativo estado "à deux", politizadinho, amante de tachos e, acima de tudo, incapaz.
E não vou contestar (ou só contestarei depois de ver) esta política, que tem a vantagem de ser simples, logo aplicável, e que se calhar no objectivo final (em termos de resolução do problema) está certa, ainda que mal dirigida (ou "pouco cirúrgica", se preferirem): se formos muitos, e baratos, eventualmente as coisas melhorarão.
Duvido é que, mesmo assim, fiquem boas....
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