Dificilmente imagino cenário onde me sinta tão deslocado quanto o dos funerais a que tenho assistido, felizmente na qualidade de figurante secundário, que dos outros papeis me tenho livrado até aos dias de hoje.
Não posso deixar nunca de pensar qual é o meu papel no filme.
O homenageado não está contemporâneo para presenciar a reverência.
Os actores secundários, familiares directos e amigos próximos do defunto, estão demasiado imbuidos na sua tristeza pela perda para sequer aturar, imagino eu, chavões cretinos como acaba por ser qualquer frase que se formule, com a melhor e mais inteligente das intenções.
O que é suposto fazer ali? Consolar? E como?
-"Olha, a tua mãe já tinha muita idade, e estava a sofrer, foi melhor assim"?
-"É a vida"?
-"Só acontece aos melhores"?
Pensei muito nisso naqueles longos minutos mais recentes num evento similar, e continuo sem chegar a conclusão alguma.
A minha técnica é distância, cumprimento pontual sóbrio e não demasiado acalorado aos mais chegados, e sobretudo silêncio, muito silêncio. Aliás, nem me passa pela cabeça dizer o que quer que seja, por mais que aquilo que esteja a ouvir de algum enlutado me pareça ser uma pergunta.
Resulta.
Mas não deixo de pensar que pareço Darth Vader num cenário qualquer de A Casa na Pradaria.
Quando for finalmente a minha vez de ser a estrela do episódio, façam-me um favor, e sobretudo um favor a vós próprios, meus entes queridos e amigos devotos (sim, és tu, mãe!): fiquem em casa, e esperem, que a dor passa sozinha.
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