quinta-feira, 2 de abril de 2009

Enfermeiros em Greve

Quem me conhece sabe que nada me move contra essa classe de profissionais, bem pelo contrário, tenho-os como maioritariamente altruistas, preocupados com o próximo e competentes na execução das tarefas que lhes competem, o que é tanto ou mais do que consigo dizer da minha própria "classe"; muitos e bons amigos, verdadeiros, tenho entre profissionais Enfermeiros do Hospital onde trabalho, e sei que a eles não ofendo com estas palavras.
Por outro lado, não deixo de constatar que alguns, geralmente os que menos se enquadram nesse perfil grandemente maioritário que tracei, me afectam os nervos, particularmente com os complexos de inferioridade que os caracterizam (e que, como complexo que é, não tem qualquer razão de ser, a não ser pelas razões das respectivas patológicas cabeças).
Esse complexo debita numa série de patetices mais ou menos públicas, mas aquela que hoje me inspirou foi, num panfleto de greve, ter visto que uma das razões da mesma seriam os baixos salários que auferem, versus os "chorudos salários" de "outros grupos profissionais", responsáveis pela depauperação dos cofres do SNS.
Umas notas apenas:
-A preocupação com os cofres do SNS é tocante; bastava preocuparem-se, legitimamente, com a sua própria remuneração, mas pronto, lá tinham que se preocupar com o bolso de "todos os portugueses"...;
-O salário de uns (altos) não são a razão do salário de outros (baixos); é irrelevante, menos para certo número de criaturas desejosas de inspirar a inveja, e outros belos sentimentos que tal, na massa à qual se dirige;
-A razão do baixo salário de uns são as regras de mercado (tal como os altos salários de outros); é haver demasiados enfermeiros para poucas vagas (e não interessa nada para aqui se deveriam ser mais, as vagas -essa sim outra reinvidicação pertinente-); é ter-se permitido a formação excessiva de profissionais, não lhes dando depois condições para poderem concorrer a lugares sem terem que se submeter a vergonhosos regateios de salário, onde obviamente se menospreza a qualidade a troco daquele que aceita trabalhar por menos; é, corporativamente, nunca se terem preocupado com esse excesso de oferta de mão-de-obra;
-Não adianta agora culpar o mundo (ou "os outros") pelos erros (note-se: das instituições ligadas aos enfermeiros, Ordem, sindicatos, associações, ..., que não souberam acautelar os interesses dos seus associados, e pior, a qualidade da prestação de cuidados daí decorrente) do passado; importa, isso sim, restringir desde já essa formação; acreditar os estabelecimentos de ensino; impedir a sua proliferação desenfreada; certificar a qualidade dos profissionais formados nas mesmas; entre tantas outras coisas inteligentes para se fazer....
Agora, acharem que achincalhar ou agredir as classes profissionais conviventes convosco (com eles, os tais enfermeiros complexados patológicos), ainda que apenas institucionalmente (no terreno, felizmente, a razão prevalece, pelo menos onde me movo e com quem me interessa...), vos vai resolver os muitos problemas reais que têm, além de infantil, é, lamento dizê-lo, mesquinho. E ser mesquinho é muito feio, ainda (acho...).
Mas não se preocupem, não são os únicos com dificuldades em rever-se naqueles que vos "representam".

2 comentários:

Anónimo disse...

Hoje estou em greve - ontem tb estive!! :)
Desde que descobri este blog que o acompanho com uma certa regularidade! E gosto (se o ajudar a reforçar o ego! E a continuar a escrever ;)!)
Estou em greve pelos motivos apontados e também eu discordo das comparações com os outros grupos profissionais - são de todo mesquinhas e despropositadas!! As nossas reivindicações, são por si só absolutamente válidas!!
Não sendo o sr, um enfermeiro, tem uma visão muito lúcida, sensata e sensivel dos problemas que nos afectam! Como todos nunca somos demais, conto também com o seu apoio para aceder ás merecidas reivindicações!
Pelo que já li do seu blog teria certamente muito gosto em trabalhar consigo!! Não se deixe estragar pelo concluir da especialidade, por favor, não vista "o titulo"! É de pessoas como o sr que precisamos a trabalhar! Sempre que há internos novos no serviço, tento recrutá-los para o "nosso" lado da barricada!:)Nem sempre é possivel, ou pouca personalidade ou fascinio pelo titulo...e menos 1!
Contudo há que acrescentar que também trabalho com alguns médicos assim: verdadeiros médicos e alguns já bons amigos! Tenho muito orgulho neles e na excelente relação pessoal e profissional que conseguimos manter - é balsamo para os dias de loucura ao serviço!!

Placebo disse...

Obrigado.
E olhe que já não sou interno ;)
Mas obrigado por me tirar uns anos das pernas....