Quando ouço falar em "Carreiras", vem-me à cabeça uma espécie de Cruzeiro inter-continental.
Fico nauseado.
Carreira é aquilo que uma série de pessoas, falando na médica, se calhar até construiram com a melhor das intenções. Faço o frete de assumir essa evidência incerta. Mas enfim, talvez o leit motiv da coisa fosse mesmo a progressão em função da superior competência, do superior saber....
Independentemente disso, é seguramente aquilo que outros, depois, usaram para se para-promoverem, bem ao jeito do amiguismo reinante na função pública dos dias que correm, para se perpetuarem em ciclos de mediocridade em postos que exigiriam à partida superior mérito, para açambarcarem postos onde as suas patéticas opiniões são transmitidas como sendo as da classe em geral. Que ainda acredito não ter nada a ver com essa corja, dos "promovidos" na carreira, nomeadamente dos ineptos (que não serão todos, claro está), quais carraças que não desgrudam do fino tecido daquilo que deveria ser uma Medicina de excelência.
Hoje fala-se em acabar com as carreiras. As carreira, com a vossa licença, já estão podres há muito tempo. Os seus defensores não passam de uns agónicos cadáveres anunciados a estrebuchar num último suspiro contra essa evidência, que nenhum político ou gestor de Hospital no seu perfeito juízo poderá novamente ignorar.
Quando se está do lado "de dentro" de uma instituição Hospitalar, constata-se o inacreditável, o despudor por vezes total, como aquele que eu testemunhei recentemente, vendo em prestigiada revista do meio um discurso de um colega recém-empossado em cargo de relevo interno, ainda que inconsequente em termos práticos (valha-nos isso...).
O referido colega encorpava a "defesa intransigente" das "carreiras", e do que elas significavam em termos de "defesa da qualidade" e de "justiça nas promoções". O mesmo homem que conseguiu o feito de se rodear, em direcção passada, do que havia de reconhecidamente mais incompetente naquela instituição. Do que havia de mais interesseiro. Do que havia de mais politiqueiro.
Esse homem estava agora, pasme-se, naquelas linhas, a travestir-se de defensor da meritocracia, "confundindo-a" com "evolução na carreira".... Se o fez deliberadamente, ou se esquizofrenicamente, não me interessa destrinçar.
Julgo que quem lesse ou ouvisse tão bem escritas ou proferidas palavras até lhes achasse alguma piada. E até ficasse, caso vivesse numa garrafa, e desconhecesse a real estirpe da pessoa em causa (ou de outras que tal), solidário com a posição de sinónimo entre "carreira" e "mérito". Calculo que os receptores partam do sábio princípio de "inocente até prova em contrário". Ou seja, a areia nos olhos anda aí, e não é fácil de varrer....
Mas eu, que estou neste barco, nauseio-me e vomito.
E sinto-me mais Liberal que nunca.
3 comentários:
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Obrigada.
Excelente artigo. Realmente, o pessoal anda com os olhos fechados porque quando os abrir para a luz, aquilo vai doer ao início (é como as picas nas crianças - só doi durante um instante e mesmo assim são para evitar).
Estar acordado custa e causa náuseas, mas alguém tem de tentar acordar o resto.
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