sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Como iniciar-se no e-Cig...


Caros leitores, é este post de utilidade pública, já que eu senti necessidade de ter a informação que a seguir tento debitar nestas linhas, e tive sempre muita dificuldade em encontrá-la e filtrá-la.

Claro que quem tem lojas com bom atendimento por perto pode sempre a elas recorrer, e salvo excepções, acaba sempre por ser uma melhor opção. Mas desde que se leve o tempo que for preciso a dissecar as várias partes dos aparelhos, e a informar-se da manutenção dos mesmos. Ou seja, é preciso paciência do vendedor.

Porque, não tenhamos ilusões, estes dispositivos são excelentes, mas ISTO NÃO É FUMAR!! Isto é inalar nicotina, e compensa a privação que se teria não os usando. Um pouco como as pastilhas que se vendem já há muito tempo, para mastigar ou colocar em pensos transdérmicos.

Ou seja, é inútil procurar nestas coisas algum sabor semelhante. Apenas tranquilidade quando a vontade aperta (e prevenção dos apertos).
Da mesma forma, convém manter as rotinas: se saía para fumar, saia-se para inalar a nicotina. Se se acompanhavam amigos na rua para um dedo de conversa numa pausa tabágica, mantenha-se o ritual, só que com os vapores em vez dos fumos. Porque isso é importante.

Por outro lado, um cigarro é prático. É pequeno, leve, acende-se, gasta-se, e é descartável. Barato já foi (e ostracizado, cada vez mais). E aí entra o maior problema que acaba por representar o e-Cig: é pesadão, e é muito mais complicado, implicando uma certa adaptação até se conseguir plena satisfação, e uma manutenção permanente que só se torna fácil após um período inicial de "estágio". Ele são os nomes das várias peças (cartomizers, atomizers, coils, isto e aquilo...), ele é o material que temos que transportar para trás e para a frente de cada vez que saímos de casa, ele são as baterias e a sua semi-vida, e do próprio líquido, ele são as peças necessárias de reserva para quando alguma se avaria. Porque, não nos iludamos, no dia em que o e-Cig deixa de estar operacional, é o mesmíssimo dia em que vamos a correr comprar tabaco no local mais próximo. Porque a adição de nicotina continua intacta.

Assim, para os principiantes, aqui vai: isto são dispositivos que transformam um líquido nicotinado (com vários sabores e concentrações de nicotina disponíveis, para todos os gostos) em vapor nicotinado, que se inala. Desta forma temos rapidamente níveis adequados no sangue de nicotina (por via inalada), o que permite substituir a combustão do tabaco e o seu fumo para o mesmo fim.

Malefícios? Não se sabe. Benefícios são evitar os malefícios bem conhecidos do fumo.
Porque ISTO NÃO É FUMO! Isto é vapor, e não é detectado nos detectores de fumo (mesmo nos vôos que proíbem estes dispositivos, pode-se vaporizar à vontade nas casas de banho, porque não é detectado nem deixa cheiro). A nicotina é responsável pela dependência tabágica (é a "parte boa"), e não pela esmagadora maioria dos malefícios, que advêm do fumo. Por isso o facto dos e-Cigs terem nicotina só permitem que se deixe o fumo (mantendo, claro está, a dependência à nicotina...). Se algum dos outros componentes dos e-liquids (os líquidos que se metem nos e-Cigs) faz mal, não se sabe. Não sendo difícil de aceitar que, mesmo que façam mal (e NÃO SE SABE se fazem!!), farão seguramente menos mal que os conhecidos males da combustão do tabaco.
Que se respira melhor respira-se, o mau hálito e a tosse desaparecem, e as finanças domésticas ressentem-se, pela positiva (cerca de 75% de poupança no vício, com rapidíssima recuperação do investimento inicial que é necessário fazer). Com outro pormaior: passamos a ser requisitados para vaporizar junto das pessoas, pelo bom cheiro que geralmente passamos a emitir. E, até prova em contrário, isso deveria bastar a qualquer humanóide com QI acima de cretino para recomendar vivamente o uso destes dispositivos, mas enfim, temos as sociedades de pneumologia que temos....

Voltando então ao tema de "manual de utilizador", os e-Cigs são compostos por uma fonte de energia (os Mod's), que podem ser de ligar à corrente directamente com bateria incorporada, tipo telemóveis, ou levar pilhas recarregáveis (muito diferentes das que usamos correntemente, e próprias para este tipo de aparelhos), sendo necessário neste caso comprar um carregador de pilhas.
É daí que vem a energia que vai permitir vaporizar o e-liquid nicotinado, e ao contrário do que acontecia nos primórdios destes aparelhos, têm hoje em dia uma durabilidade excelente, dispensando andar-se com a parafernália de carregadores sempre atrás de nós.
Há vários modelos e preços, para todos os gostos e carteiras, com madeiras, meramente metálicos, mais ou menos artísticos, com maior ou menor tamanho. É sempre a parte mais visível do e-Cig, e geralmente a mais pesada. Os melhores permitem aplicar-se vários níveis de voltagem, o que vai traduzir-se em maior ou menor quantidade de vapor produzido (e maior ou menor satisfação, para cada momento do dia: mais voltagem de manhã para "repor níveis", reduzindo-se ao longo do dia, por exemplo).

Resolvida a questão da fonte de energia, resta obter a parte onde se mete o e-liquid, e onde este é vaporizado. Há vários nomes para essa parte, deste atomizadores (atomizers), cartomizadores (cartomizers), ou simplesmente "tanques" (o meu preferido). Há detalhes que podem levar à variação das várias designações, mas no fundo essa parte é sempre constituída por um recipiente para o e-liquid (com maior ou menor volume), e uma parte (uma mecha) que aquece e vaporiza esse mesmo líquido (e que se designa por "coil"). Essa parte (o coil, não o tanque todo) é descartável, e de tempos a tempos, conforme o uso, tem que ser substituída (porque vai "queimando"). Há quem goste de construir os seus próprios coils, e vários dispositivos trazem mechas à parte (com chavinha de fendas, parafusos, etc...). As mechas podem também ter vários tamanhos. Eu cá prefiro e recomendo, pelo menos para uma fase inicial, comprar esses coils à parte, e ir substituindo (cada um dura cerca de um mês, e são muito baratos: ~1-2 euros cada). Há também tanques totalmente descartáveis.
Os tanques, tal como os Mod's, têm várias nuances uns para os outros, feitios assim ou assado, de vidro, de cerâmica, opacos ou transparentes, com cores, etc.... Na prática, interessa o tamanho (os mais pequenos levam ~1,5mL de e-liquid, os maiores levam mais que 5mL) e o tipo de manutenção do seu coil (se são descartáveis, deve-se ter sempre uma pequena reserva). Quem não gosta de andar com a bisnaga do e-liquid atrás compra um tanque grande (e carrega-o uma vez por dia, por exemplo), e quem prefere ter um dispositivo discreto preferirá um pequeno (e ir carregando-o várias vezes ao longo do dia, à medida que se vai gastando).

Ter em atenção que há que assegurar-se que o tanque enrosca no Mod (pois esses dispositivos são todos desmontáveis), pois apesar das medidas serem mais ou menos universais, podem ser precisos adaptadores, e em geral mais vale comprar logo peças que se adaptem adequadamente umas às outras, do que depois andar com rosquinhas intermédias para encaixar as coisas.
Pode ser preferível, numa fase inicial, comprar um "starter kit", mas rapidamente se quer passar para as coisas mais "profissionais".

Finalmente o sumo da coisa: o e-liquid. Aviso já para não se estar muito fixado na tentação inicial de se comprar líquidos com "sabor a tabaco". Porque isso é sabor a fumo, e não é disso que nós, fumadores, gostamos (ainda que não nos apercebamos disso quando fumamos). E menos ainda esperar que o vapor nicotinado, independentemente do sabor, tenha qualquer parecença com fumo (porque não tem!). Mais vale ir-se para sabores bem aromáticos (tipo cheiros de cachimbo e tabaco: mas sublinhando que os sabores NÃO SERÃO parecidos). Os meu preferidos são baunilhados, mas cada qual terá depois o seu gosto, e os sabores variam desde o mentol, passando por todas as frutas (e tudo o mais que se possa imaginar), sendo depois uma questão de experimentar (e para isso, mais vale ir a uma loja onde geralmente existem "secções de prova").
O segundo aspecto dos e-liquids, além dessa questão do sabor, é o da concentração de nicotina. Quanto menor a concentração de nicotina no líquido, mais inalações serão necessárias para se atingir uma determina concentração no sangue (Química básica...). Por isso recomendo, aos grandes fumadores, de começar logo com as concentrações máximas. Quem depois estiver interessado em ir abandonando a dependência de nicotina pode, calmamente ao longo dos meses, ir reduzindo a concentração de nicotina do seu e-liquid preferido.

Um site excelente, com os produtos topo de gama (para os potenciais consumidores que não gostam de sair de casa, ou que não têm lojas por perto), é o http://www.bargainvapour.com. Outros haverá, mas a minha experiência leva-me a recomendar esse, do qual não deverão ter razões de queixa (pois até já tive uma questiúncula com uma troca de produtos, que resolveram rapidamente enviando-me prontamente o produto certo, sem questionar nem exigir prévia devolução daquele que tinham enviado por engano).


E pronto, espero que isto tenha alguma utilidade.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Pneumofascistas


Os pneumologistas em geral, e promotores da saúde pública em geral, e cidadãos lascivo-passivo-compulsivos, metem-me nojo.
Isso tira-me o discernimento que seria desejável na escrita sobre um tema, mas é a realidade, e terei que o conseguir com alguma qualidade apesar disso

E o tema é o cigarro electrónico, ou e-cig, e a legislação que muitos anseiam por vomitar para cima de todos os seus utilizadores.

Em primeiro lugar, a declaração de conflito de interesse: sou nesta altura adepto confesso do método.

Porque nunca me apeteceu parar de me "nicotinar", acabei por optar por esta alternativa à combustão de tabaco para atingir o mesmo efeito. O "bom" efeito, da nicotina, no meu humor e bem estar, que nenhuma droga por mim experimentada compensava (não fui experimentar, bem se veja, as mais "pesadas" e/ou ilícitas da praça...).

Agora a ciência e a experiência:
-Os métodos actuais, diferentes dos de há cerca de 4 anos quando experimentei pela primeira vez, são altamente satisfatórios. Produzem apreciável quantidade de vapor, e permitem a inalação de uma boa quantidade de nicotina, que desta forma entra em circulação de forma rápida. Mais rápida que uma pastilha mastigada, ou que um penso de libertação prolongada. E, sobretudo: "on demand", ou seja, sempre que me apetece, e enquanto me apetece.
-Além da qualidade da vaporização do líquido nicotinado, o conforto na exigência dos "recarregamentos" com o líquido melhorou incrivelmente. Ainda sou do tempo em que se molhava uma esponja, tendo que se repetir o acto várias vezes por dia (sempre que ela começava a ficar sêca, deixando um sabor desagradável na boca), ou alternativamente andar com n recargas, que ao final do dia se tinham que embeber todas ao mesmo tempo. Uma espécie de javardice, e que consumia tempo. Agora, há uns depósitos grandes de líquido que simplesmente se preenchem, rápida e higienicamente, sempre que se gastam (e demoram muito mais a gastar-se, mesmo com a maior quantidade de vapor produzida). Ou seja, dura mais, e quando acaba é fácil de repôr.
-Por fim, a autonomia das baterias/pilhas recarregáveis melhorou imenso, e já não é necessário andar com carregadores atrás de nós para ligar às tomadas no emprego. Basta recarregar as baterias de noite, e ao acordar há energia para o dia todo, à vontade.
-Já agora de referir em jeito de nota que, coroando o sucesso desta indústria em franca expansão e em acelerado desenvolvimento, o surgimento finalmente de modelos não-aparentados a cigarros e cachimbos. O ridículo daquelas coisas de plástico que acendiam uma luz de cada vez que se inalava só tinha paralelismo com o argumentário desta fauna que hoje clama pela proibição da coisa. Hoje em dia há modelos esteticamente bonitos, que nada têm a ver com os seus antepassados combustíveis.

Quanto à saúde, e tal como esses cretinos todos que falam como se alguma razão tivessem: não faço ideia dos efeitos eventualmente nefastos da coisa. Existe nicotina, que era o menor dos males do tabaco, apenas conhecida porque era a parte "boa" do tabaco, que fazia com que ninguém quisesse largar o vício. E existem outras substâncias, cujo efeito na saúde a prazo se desconhecem. Tal como da maioria das coisas que inalamos no dia-a-dia. Ou seja, dito de outra forma: tanto quanto se sabe, não faz mal a nada.

O que não se desconhece são os efeitos da combustão do tabaco: provoca doenças respiratórias, oncológicas e cardio-vasculares.
Será que andaríamos a discutir os efeitos nefastos a prazo de uma certa pastilha elástica se dela uma grande parte de fumadores dependessem para deixar de fumar? Será que se pensaria em taxar a pastilha elástica, ou em proibir o seu uso em locais públicos?
Ou será que ninguém quer mesmo usar os neurónios, para concluir que nem tudo o que fumega é fumo? Que nem tudo o que tem nicotina faz cancro e outras doenças? Ou andaram a vender pastilhas nicotinadas venenosas durante anos sem nada dizerem?

O argumentário menos patético, mas ainda assim muito, muito patético, prende-se com algo digno de uma milícia de costumes, e reza mais ou menos assim: pois se se demorou tanto a excluir da cena pública o acto de fumar, não se deve, porque dá mau exemplo "aos jovens" (esses bovinos...), permitir algo "parecido". Por parecido, entenda-se, algo que não tem parecença nenhuma, com a excepção factual de conter nicotina. E de fazer vapor, que se parece com fumo....

Mas que não provoca, que se saiba, qualquer doença (nem ao próprio, e muito menos a terceiros). Nem incómodo (porque não tem cheiro, e nem sequer dá uma irritaçãozinha que seja aos olhos ou a outro sentido mais sensível dos puritanos). Nem... nada que não seja este revoltar de entranhas a todos os proto-fascistas que durante anos quiseram, e conseguiram, banir das suas vistas aqueles que de qualquer forma nunca quiseram as suas companhias. Mas baniram das suas vistas, e limitaram a nossa liberdade até (para já) os limites das nossas propriedades.

Eu cá sinto-me bem, porque em primeiro lugar não sinto a falta do tabaco (facto primordial!), mas também porque o hálito melhorou, os cheiros à minha volta melhoraram (na casa, no carro, na roupa), e até poderia jurar que quase me apetece começar a jogar futebol com os meus filhos. E, claro, gasto menos de 25% do que gastava com tabaco.

Enfim, sinais dos tempos. Eu dir-lhes-ia a todos para enfiar um dedo no cu e esperar que passe, mas infelizmente são bem capazes, apesar da qualidade do argumentário, de conseguir mais uma vez interferir com a minha liberdade individual. E isso enoja-me.

O engraçado é que, provavelmente, este é um método que é mesmo capaz de ser revolucionário na sua capacidade para acabar com o vício do tabaco (substituindo-o por nicotina vaporizada). E que, provavelmente, é infinitamente menos nocivo para a saúde dos utilizadores do que era o tabaco, se é que será de todo nocivo.
Ou seja, os proto-fascistas, entre os quais alguns pneumologistas, "colegas" meus que supostamente se regem por critérios científicos antes de emitirem opiniões (mas que, bem se vê, não hesitam em remeter-se ao obscurantismo do bitaite sempre que solicitados), são bem capazes, caso essa campanha surta efeito, de fazer com que milhares voltem ao tabaco fumado, contribuindo dessa forma para a perpetuação da incidência de todas essas doenças que eles, benevolamente, sugerem repetidamente querer erradicar.

Uma cambada de palhaços, é o que são! Vamos a ver se existe alguma racionalidade no acto de legislar. Ou seja: a esperança não será muita nesta fase.

O que levanta umas poucas de questões: há mesmo interesse em que diminua o número de fumadores? O aumento de preços destina-se a desincentivar, ou a amealhar? Haverá consultas de cessação tabágica a precisar de doentes? E consultas de outras doenças pulmonares que não podem ficar vazias, ou menos povoadas? E Manéis cujo protagonismo mediático se arrisca a ficar esvaziado, por ausência de velhos problemas?

Questões....

terça-feira, 22 de abril de 2014

E se?


E se este país estivesse mesmo a viver acima das suas possibilidades?

E se os nossos salários e pensões estivessem realmente acima daquilo que a nossa pobreza permite? E os anos passados mais não fossem do que dar-se o que nunca se teve ao povinho, a troco de uns votos, ao invés da governança a prazo deste rectângulo?

E se este governo estivesse a ser devidamente manietado por uma troika, genuinamente surpreendida pela nossa incapacidade em fazer contas ao longo das últimas décadas?

E se os nossos padrões de vida se regessem mesmo pelos existentes pré-adesão à UE (CEE à data), tendo-nos sido fornecidos entretanto meios que não usamos para desenvolver estruturas que levem a uma maior riqueza do país, antes desperdiçando-os graças ao nosso endémico chico-espertismo, cuja inexistência só por má fé poderemos sequer admitir?

E se as melhorias dos padrões de ensino se resumiram a carradas de sociólogos e outros Drs ólogos que tal, cuja utilidade para se produzir o que quer que seja medível em PIB se aproxima do nulo, limitando-se a travestir os bons números de "sucesso escolar"?

E se as próximas gerações vão mesmo ter que pagar caro pelas reformas e salários que não se podiam conceder nos valores em que foram concedidos, nem nas alturas em que foram permitidas?

E se as próximas gerações vão mesmo, à semelhança dos seus pais e avós há muitos anos atrás, ter que emigrar para um país a sério se quiserem elevar-se desta qualidade de vida, tal como descobrimos afinal ser a nossa, aquela que podemos pagar?

E se os países desenvolvidos forem desenvolvidos porque o conceito de cidadania se eleva acima do folclore pontual do que os paneleiros podem fazer com a sua vida, ou se, não gostando de touradas, devemos proibir com gritaria e muita palhaçada os aficionados de manterem o seu particular prazer, e tantas outras coisas tão superiormente edificantes que tal?

E se os países desenvolvidos forem desenvolvidos porque também se preocupam com uma coisa chamada défice, que em boa verdade ouvimos falar desde sempre, e que julgávamos que, ao contrário do que acontece nas nossas casas, podia ser crescentemente negativo, e que só há menos de meia dúzia de anos a esta parte é que nos preocupamos em realmente saber o que significa? E concerteza que nem todos, sendo que tantos e tantos ainda confundem esse défice (agora menor) com a dívida que ele foi alimentando (e que, evidentemente, continua a crescer...).

E se a matemática for importante? E a Cultura Geral?

E se a Cultura Geral se estendesse para além dos conceitos bacocos de uma filarmónica aqui, uma peça de teatro subsidiada acolá, um foguetório de fim de ano ou uma pimbalhada de Verão numa praceta de uma terriola qualquer?

E se a Educação fosse realmente importante? Uma educação a sério, em que se discutissem conteúdos, em que se discriminassem vocações e capacidades, ao invés de andarmos tão dedicados em condicionar professores de darem uma estalada em fedelhos malcriados para manterem ordem nas suas salas, ou em termos pavor de separar incapazes de capazes para um determinado fim, com receio que isso nos remeta preconceituosamente para a galeria dos intolerantes fascistas pré-modernos, onde se arruma tudo e todos neste país, desde uma certa revolução que não vi acontecer, mas que desta forma silencia qualquer voz discordante do balir oficial das frases feitas e politicamente correctas.

E se soubéssemos que o dinheiro do Estado é o nosso dinheiro?

E se acreditássemos que o nosso dinheiro é melhor gerido se estiver nos nossos bolsos? Como quando escolhemos a rede do nosso telemóvel, a companhia do cabo ou o supermercado onde fazemos as compras?

E se este conceito de "redistribuição da riqueza" mais não fosse do que nos tirarem o nosso dinheiro para o gastarem em canais de televisão que não vemos, em subsídios para coisas que desprezamos, em companhias cujos préstimos nunca iremos usar, ou em obras cuja utilidade nunca existirá?

E se o chavão "os impostos servem para manter o Estado Social" mais não fosse do que uma chantagem idiota e uma afirmação falsa, bastando para isso tentarmos lembrar-nos da última vez que o "Estado Social" nos pareceu realmente útil ou eficaz para quem dele precisa. E se o "Estado Social" fôssemos nós? E deixassem de nos retirar o nosso dinheiro, que depois decidiríamos em que bolsos o pôr. Não faríamos melhor selecção? Com melhor critério que esse "critério nulo" que rege as esclerosadas instituições deste Estado, tão lestas em gastar o nosso dinheiro sem se preocupar com os resultados? Sem exigir resultados?

E se cada povo tem mesmo o Estado, e o país, que merece?

E se os povos ricos fossem ricos porque não gastam mais do que devem, e gastam melhor do que os pobres?

E se, uma vez chegados ao ponto em que gastamos o que temos, conseguindo pagar (ou ir pagando) o que devemos, chegarmos à conclusão que temos que abdicar de muitas regalias a que chamávamos "direitos adquiridos"?

E se o que está escrito na bendita Constituição da República estiver completamente desfasado da realidade? E não tiver qualquer relevância face à crueza dos factos, sendo texto próprio de uns quantos perigosos fanáticos? E caso contrário, porque não escrever lá também que cada português deve ter direito a escolher um carro e uma casa, bem como um emprego vitalício e bem pago, sendo-lhe tudo facultado de imediato aos, digamos, 18 anos? Ou será que algumas destas coisas já lá estão escritas?

E se fosse normal despedir-se um inútil? Um indolente? Nem que fosse para dar lugar a alguém que realmente quer trabalhar e merecer o seu salário? Ou não fosse anormal despedir-se um incompetente? Por forma a fazer-se de conta que este é um sistema meritocrático, que premeia a virtude?


Bem, se isso fosse assim, esse país concerteza não se chamaria Portugal. Terra de belas praias, com um belo sol, céu azul..., um clima único no mundo. E gentes pacatas e simpáticas, como sabemos.

Ou seja, óptimo para se passar umas belas férias!


Já para trabalhar, e viver o resto do ano, é melhor pensar-se seriamente noutro sítio....

domingo, 13 de janeiro de 2013

O Zico


A propósito disto, frase por frase:

"Esta petição tem como objectivo lutar contra o abate do cão "Zico" que atacou uma criança em Beja e de todos os outros "Zicos" espalhados pelo país... "
-Eu tenho dois cães, um casal, que adoro e estimo. Fazem "parte da família", como costuma ser maneira de dizer, juntamente com os meus dois filhos e esposa. Partilhamos todos desse sentimento pelos animais. Dito isto, fiz tudo (a começar na escolha da raça, passando por pôr limites sólidos na minha propriedade e por disciplinar os animais a não serem maus com ninguém) para que nunca me deparasse com um problema da parte deles, contra pessoas ou outros animais, fora ou dentro da minha propriedade. Salvo trespasse por um adulto dos limites da mesma (razão óbvia), não concebo que os meus cães ataquem e aleijem seja quem for. Não me passa pela cabeça que um dos meus cães, ou os dois, atacassem uma "criança" (deselegantemente inominada, neste comunicado), e nem precisava de ser no extremo deste caso de lhe esmagar o crânio deixando exposta massa encefálica (!!!), sem que estivessem abatidos no final do mesmo dia. Acho inacreditável, e de uma troca de prioridades éticas patética, o estar-se a discutir, sequer, este ponto.

"Um cão que nunca fez mal durante 8 anos e atacou é porque teve algum motivo."
-Mas isto faz algum sentido?? Motivos de cães?? E mesmo que fizesse (e não faz!), o que interessam os "motivos" que o animal pudesse ter, dado o fim resultante? Anda tudo doido....

"O abate não é solução! Nestes casos há que investigar o que causou a reacção do cão (foi provocado/não está a ser bem tratado/etc) e pode optar-se pela reabilitação/treino do cão!"
-O ridículo em crescendo! Vai-se agora se calhar criar um organismo para investigar estes "casos", devidamente alicerçado com o sistema integrado que permita o seu tratamento? Isto é Portugal? Onde se debate se há dinheiro para o básico da sobrevivência dos portugueses? Nem que houvesse cá petróleo em cada quintal eu daria por bem empregue esta sugestão de "investimento". Preferia plantar o dinheiro.

"Se não se abatem pessoas por cometerem erros, por roubarem, por matarem...então também não o façam com os animais! Eles também merecem uma segunda oportunidade!"
-Faltava a analogia entre "pessoas" e "animais". Ou a bestialização das pessoas, ou a humanização das bestas. Enfim, não vamos massacrar os neurónios, os que defendem o princípio do texto são os mesmos que concordam com este aforismo....

"POR CADA VIDA PERDIDA DEVIDO AO ATAQUE DE UM ANIMAL, VÁRIAS VIDAS SÃO SALVAS POR ANIMAIS!!!"
-Isto é para rir? Isto quer dizer alguma coisa?

Valha-nos a paciência. Conseguiram a minha atenção em plena hibernação, e pelos piores motivos.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Os Números, esses Desmancha-Prazeres dos Propagandeiros...



Ver o que se passa nas Unidades de Cuidados Intensivos por essa Europa fora.

Em Portugal, há menos camas por habitante que em qualquer outro local na Europa. E há menos gasto (também por esse motivo) que na esmagadora maioria deles.

Gorduras? Aqui não, obrigado!

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Abandonar o Barco


...enquanto é tempo.

Lamento, meus caros, mas esta afigura-se-me como a única opção inteligente nesta altura, neste país patético.

Patético porque uns quantos patetas julgaram que alguém haveria de solidariamente financiar pacificamente os nossos vícios, como se de filhos mandriões que não querem sair da casa dos pais nos tratássemos. Patético porque ao invés de estarmos hoje a discutir para o que deve servir o Estado, e tentarmos fazer com que este seja sustentável com qualidade para o essencial, ainda estamos a discutir se devemos gerir empresas e todo o tipo de devaneios com os impostos que nos asfixiam, se devemos subsidiar "cultura" e foguetório ao ritmo imposto por um qualquer autarca sebento quando falta dinheiro para aquecer as nossas casas e, até, para pôr comida nos pratos dos nossos filhos, ou se devemos optar pelo jota-boy do lado ao invés do jota-boy do momento para gerir a nossa desgraça....

Não há saída possível, este país é intelectualmente e moralmente insolvente.
Ou melhor, há!
Países a sério por esse mundo fora não faltam, e muitos de nós, tradicionalmente, sempre foram lestos a percebê-lo. Por isso, portugueses competentes e sérios, não temam, e rumem para paragens mais meritocráticas. Nada pode correr mal, ou pior que neste antro condenado à miséria. O valor é melhor apreciado onde existam olhos interessados em discriminá-lo do resto.

Isto dito por um privilegiado funcionário público com contrato "vitalício" com o Estado (ainda que os contratos com o Estado valham o que se tem visto...), ansioso por vislumbrar um oportunidade para libertar o seu privilegiado poiso a algum "afortunado" sucessor, enquanto se vai esforçar para oferecer uma vida melhor aos seus filhos, noutro país que não seja de "faz de conta".

Darei mais novidades quando estiver a salvo disto tudo....

terça-feira, 17 de julho de 2012

Impressões a Sério


Eu gosto de Enfermeiros. Melhor dizendo, gosto MESMO do papel que os enfermeiros desempenham, no exercício da sua profissão, complementar da minha, e essencial aos bons resultados que poderei (ou não) ter na minha prática ao serviço dos doentes.

Custa-me por isso ver alguns desgastarem-se em preocupações de procurar novas "competências" que os tornam mais parecidos comigo, ficando menos parecidos com eles próprios. E isso é um problema que poderá minar a profissão por dentro, graças a alguns populistas/oportunistas acicatadores de ódios que, infelizmente, se vão aproximando dos cargos de poder e decisão nessa classe.

Isso acontece por causa de dois flagelos: desemprego e emprego precário, ambos resultantes do sobredimensionamento da classe para as possibilidades ou vontades (o que é diferente de "necessidades") do país. E nenhum dos flagelos é combatido com a "solução" da multiplicação de competências, pois continuarão a ser demasiados, por mais competências que venham a ter no futuro (passariam apenas a ser muitos, com muitas competências, e no desemprego ou emprego precário, tal como agora).

A falácia advém do facto da classe ao lado, a tal que parece ter algumas das apetecíveis competências que requerem, não ter ainda nem desemprego, nem estar de todo precária, sobretudo em comparação com a deles. E é uma falácia porque isso não se deve de todo às "nossas" competências, mas tão só ao facto de poucos as estarem a exercer. Haja sobredimensionamento de recursos humanos médicos (como se prevê, se não for travado), e o problema vai-se repetir, tal e qual se vive hoje na classe de Enfermagem. Dito vendo por outro prisma, não é por serem menores as actuais competências dos Enfermeiros que existem os problemas.

Não seria este um tema problemático se ao somatório de competências, algumas das quais já agora me parecem ser do mais puro bom-senso, existindo até já na prática em muitos serviços que se conseguem organizar de forma inteligente e descomplexada, não se descurassem as actuais, essas sim a meu ver fundamentais e que urge manter e até aperfeiçoar: a proximidade ao doente, a intimidade desse relacionamento com o que sofre, o papel de advogado de quem padece junto do médico, necessariamente mais ausente, o confessor de angústias (e dados clinicamente relevantes) por vezes só com ele partilhadas, a delicadeza dos contactos de intimidade, o bem-estar psicológico que proporcionam, é algo que não tem paralelo nem preço. E é uma competência única, e fundamental, além de todas as outras de natureza mais "prática".
Acresce a isto o bom ambiente que geram no trabalho, a capacidade de trabalho de equipa que podem proporcionar, e que me leva a acordar todos os dias com vontade de me dirigir para o trabalho, para tratar dos nossos doentes, na fundamental companhia deles (e, já agora, dos também excelentes AAM com os quais tenho a honra de poder trabalhar).

É por isso com alguma preocupação que assisto à não-valorização de alguns daqueles excelentes profissionais, numa Unidade diferenciada como é aquela em que exerçemos as nossas profissões. Que raio de corporação (Ordem, sindicatos...) permite que Enfermeiros com quase duas décadas de experiência praticamente exclusiva numa Unidade destas, sejam depois ultrapassados hierarquicamente por outros, muitíssimo mais novos e forçosamente inexperientes, só porque após a curta licenciatura de 4 anos fizeram mais um e tal de especialização fútil no contexto daquela Unidade? Como é que se permite, ou que pressões haverá, e estou à vontade para o dizer porque a Chefia de Enfermagem na minha Unidade é exemplar e com legitimidade pouco menos que imaculada, para que a chefia dos turnos (aquela que depois no dia-a-dia é relevante) seja entregue a quem ainda mal aprendeu a virar frangos, e quem é chefiado nada tem a aprender, antes pelo contrário, com aquele que supostamente o está a chefiar?
Maior fica a preocupação quando não reconheço nestas novas fornadas a capacidade destes mais velhos (mas não velhos!), remetidos para o segundo plano. E quando não lhes vejo a vontade (quando não a capacidade) de desenvolver as faculdades que tanto admiro nos seus antecessores.
E ainda maior fica quando constato a tensão gerada, e que apenas aumenta o fosso comunicacional, entre os valorosos excluídos e os novos e impreparados promovidos.

Isto é um quadro geral, havendo evidentemente muitos novos e bons ("à antiga"), e concerteza alguns velhos e maus. Felizmente que, apesar de tudo, na realidade que é a minha, estes problemas sejam ainda algo marginais, ainda que existam (e que raio, são tão escusados...), sabendo porém que noutros serviços atinjam proporções mais preocupantes.

Ou seja, mesmo que com mais competências (mas de preferência sem obsessões, porque são desnecessárias, nem exageros, para depois não acabarem por acumular antes "incompetências"), por favor não se esqueçam de dar a equivalência dessas competências a quem realmente as tem. Para não serem injustos para os portadores de uma fundamental herança, materializada naqueles que são o melhor exemplo do que deve ser a Enfermagem, com toda a nobreza que a caracteriza! Sem a qual, acreditem, a vossa profissão se torna bem mais escusada do que a ilusão de um somatório de competências possa deixar antever....

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Boquinhas Espremidinhas pela Doutorice


Muitas vezes usei esta expressão "Garretiana" para criticar gente com a minha profissão, num problema transversal a esta sociedade provinciana e complexada, e que leva a tristes traduções como no "caso-Relvas", ou como no um pouco mais antigo "caso-Sócrates".

Patetas, é o que são estas pessoas, que não conseguem conceber ser bons no que fazem sem terem uma espécie de canudo decorativo a apoiar, por mais distanciados que estejam da utilidade do mesmo (e, logo, sem a noção que o que interessaria no "canudo" seria a mais valia que a sua obtensão traria), e por mais ilícita que a sua atribuição seja, à luz de todos os que precisam de se esforçar para adquirir as reais competências que o canudo supostamente traduz (já agora: essas pseudo-universidades ainda funcionam? Os reitores, outros responsáveis entre os quais os "professores" coniventes com a palhaçada, onde andarão todos?).

Para além destes, há evidentemente gente com canudo (dos "bons") e que não se distingue profissionalmente, pois apesar de devidamente munido com as "armas", não tem depois o brio, a honestidade, a moralidade ou outro atributo qualquer para o correcto desempenho da mesma.
E há ainda outros, que sem canudo algum conseguem distinguir-se até à estratosfera (porque não pegar no exemplo extremo de Cristiano Ronaldo, que não precisa ser doutor em Universidade da treta alguma, para ser um português singularmente distinto no que faz a nível mundial).

Mas depois há esta espécie de gente pelo meio, que julga que com canudo sobe algum degrau na consideração social, como se o canudo quisesse dizer, por si só, alguma coisa. Quando nem trata o problema mais importante desses indivíduos à partida, e que é este defeito de personalidade que os inferioriza perante outros que nem se deviam preocupar em imitar. As consultas de Psiquiatria (ou, vá lá, de Psicologia Clínica) são assim tão mais caras que um curso imaginário de trazer por casa? O preço dos remédios que pudessem ser necessários são assim tão exagerados, quando comparados com a permanente ameaça deste frágil e patético telhado de vidro se estilhaçar? Sobretudo quando se trata de figuras públicas?

O que me leva a este blogger, uma espécie de enfermeiro (os com letra grande são outros, como tantos meus conhecidos, alguns amigos, que não vou inferiorizar comparando-os com esta alma perturbada) com muitas destas doenças "complexas" que refiro mais acima genericamente. Não complexas por serem raras, ou difíceis de diagnosticar, ou sequer (necessariamente) de tratar (ainda que a maior dificuldade nestes casos costume ser que o doente admita que tem doença, como em certos distúrbios aditivos). São complexas tão só porque dizem respeito a estes "complexos" de inferioridade (definição minha), que no caso dele depois se reflectem nesse blog, por sinal muito popular, e que é o espelho do que o anonimato pode fazer à falta de vergonha na cara. E o resultado é o ambiente malsão que se pode ler por lá, escrito por ele (sobretudo) mas também  abundantemente nas caixas de comentários. Um antro de desvirtude, incentivado pelo anfitrião, como só num blog se poderia admitir.

Duvido que alguém identificado ou identificável escrevesse isto, entre tantas outras coisas pelas quais passei os olhos no "histórico", após um amigo meu pouco amigo da minha paciência ter achado que o exercício me iria divertir, dando-me o link que eu desgraçadamente segui. Melhor dizendo, que o escrevesse e depois conseguisse sair à rua no dia seguinte, encarar colegas de trabalho, nomeadamente a massa de gente que acabou de insultar, neste vómito de calúnias e de processos de intenção que confunde com opinião ou "acusação" (não confundir este senhor com um whistleblower, que como disse já há algum tempo atrás, é uma espécie à parte, útil e que deveria ser melhor tratada pelo sistema judicial e institucional em geral).

Bem sei que agora estão a pensar: mas SExa também é anónima! Pois sou, mas ao contrário da criatura referida, assumo tudo o que aqui escrevo, repito-o no meu dia-a-dia, não insulto gratuitamente"classes profissionais" no seu todo com base em casos pontuais derivados de conversas próprias de uma tasca, tendo antes aqui e ali um ou outro alvo bem definido (como este agora), e vários dos meus amigos (médicos, enfermeiros e outros) sabem bem quem é o homem que assina pelo heterónimo "Placebo". Ou seja, a qualquer altura se poderá saber quem sou realmente, e não tenho medo algum desse dia (que provavelmente, diga-se já agora, há de chegar).

Porque o que aqui digo não me envergonha: define-me. O que aquele blogger cheio de recalcamentos pútridos não poderá concerteza dizer, salvo psico-patologia complexa (definição literal desta feita) que seja do meu desconhecimento.

Em dia de greve, gostava de sublinhar para o mentecapto que não foi por auferirem aqueles vencimentos que os médicos fizeram greve. Nem houve médico algum que "furou" greves de enfermeiros, pelo simples facto que só enfermeiros furam greves de enfermeiros, e vice-versa. E que ninguém lhe pede solidariedade, a sua ou a do "povo" (o que na sua concepção prepotente-complexada, deve ser a mesma coisa): há reivindicações (justas ou não), que podem ser compreendidas (mais ou menos) por parte do MS e das outras pessoas, e ponto final. Qual solidariedade? De quem pensa dessa forma inquinada que demonstra em cada linha que escreve por aquele blog abaixo? De tantos outros parecidos com ele? Solidariedade vinda "daí" é que seria motivo de preocupação.

Ninguém tem que calçar os "seus" sapatos. Temos que calçar os nossos, dos médicos, porque é de uma greve de médicos que se trata, pelos seus interesses, que são em muitos pontos (acredite-se, ou não) os do SNS, e da qualidade futura da Medicina no seu seio. Os problemas de enfermagem são outros, concerteza mais graves (resultado do laxismo e incompetência de Sindicatos e Ordem respectivos durante anos, que espero não se repita com os médicos), para os quais espero que existam solucionadores bem mais sãos, realistas e capazes que o referido blogger anónimo. Ou seja, o cu nada tem a ver com as calças (metaforicamente: uma greve nada tem a ver com os problemas de todos os outros).

Quanto à moralidade e à decência, deve existir em Medicina (e é um dos temas preferenciais por aqui, e aos quais mais me dedico por ter algum conhecimento de causa, e onde houve e continua a haver muito a fazer) como em todas as profissões, por mais que esse senhor goste de fazer crer que é problema exclusivo da minha classe profissional (que belo planeta ele habita, tão diferente do meu em que os problemas estão bem mais generalizados, tornando-os muito mais difíceis de resolver). Se ele ao menos falasse do que sabe (ou devia saber).

Por fim, terminava dizendo apenas que, às vezes, o facto de haver cheiro a merda (julgo ser este um calão tolerável, mas desculpem-me desde já os leitores mais sensíveis) não quer dizer necessariamente que ele provenha de algo que nos rodeia. E resolve-se facilmente, com um lenço e uma boa assoadela. Pode também ser preciso lavar os dentes e bochechar com elixir a seguir. Acho que ele devia experimentar....

sábado, 7 de julho de 2012

O Palhaço


Repare-se no belo texto que certo indivíduo sem vergonha na cara decidiu pincelar (publico tudo, mas para quem não gosta e perder tempo, fique-se pelo meu bold/sublinhado):

"Meu Caro José Antunes, 


No artigo de Opinião do Prof. Miguel Guimarães publicado no número desta semana (Tempo Medicina datado de 2 de Julho de 2012, número 1488), que acaba de me enviar, é-me atribuída uma afirmação que eu nunca fiz, que ele nunca ouviu e que não sei de onde surgiu [os médicos são uns privilegiados e não querem trabalhar]. Sobre a “minha” frase constrói a ideia de que eu estaria contra os Médicos e contra o Direito à Greve o que, obviamente, não é verdade. Como eu tenho o Prof. Miguel Guimarães na conta de ser uma pessoa de bem, ficarei grato se lhe fizer chegar esta minha nota com um pedido de desmentido. Muito se tem dito, opinado, inventado e construído sobre afirmações minhas. Não temo corporações, nem grupos de interesses e não me desmotivarei por ataques pessoais que apenas me são dirigidos por quem sabe da minha inabalável fé na convicção da luta pela verdade. Os Médicos são muito mais do que quem os diz representar e, enquanto Médico, não preciso de, nem aceito, lições de ética e responsabilidade de ninguém, em particular de dirigentes que olham mais para os seus interesses egoístas. Não respondo a ataques feitos por gente menos educada ou manifestamente maldosa, nalguns casos pouco inteligente, e quase sempre muito despeitada. Reagirei às mentiras e serei incansável na defesa do interesse público. Sobre serviço público, capacidade de sacrifício e mau salário sei tudo o que há para saber e tanto mais quanto nunca exerci outra forma de prestação de serviços médicos que não fosse através do SNS ou do Estado. Como tenho consideração e estima pessoal pelo Prof. Miguel Guimarães, que nunca confundi com dirigentes de fraco gabarito intelectual e ético,será importante que esta minha nota seja publicada. Não o misturo com aqueles que transmitem uma imagem errada dos Médicos e estou certo que o Prof. Miguel Guimarães também sabe que o meu pensamento e comportamentos são transparentes, deontologicamente inatacáveis e que estou bem mais preocupado com os Doentes, a Medicina em Portugal e a sustentabilidade do SNS, do que alguns agentes políticos e dirigentes de organismos profissionais que apenas fazem demagogia e alimentam confusões junto dos Médicos e da população. Os Médicos não merecem que se lhes minta, nem se deixarão instrumentalizar. Em Portugal, infelizmente, tem-se assistido a uma diminuição progressiva do nível da discussão sobre a Nossa profissão e isso é lamentável. Perdem os Médicos e perdem os Portugueses. O Prof. Miguel Guimarães terá, se o quiser, um papel importante e muito relevante na defesa dos interesses dos Médicos e, por isso mesmo, lhe peço que medite no que aqui escrevi e tenha a gentileza de me perguntar o que eu disse, antes de escrever sobre confabulações ou construções de frases que não são verdadeiras ou correspondem a interpretações fora de contexto. Para si, Senhor Professor, terei sempre a mesma atenção que dou a todos os Colegas que pretendem ter conversas sérias e construtivas. Como sabe, o meu gabinete está sempre aberto a quem me procura.


Cumprimentos, Fernando Leal da Costa, Médico, exercendo o cargo de Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Saúde"


Agora, recordem lá a afirmação aqui.


Parece mentira, e eu não tirei apontamentos enquanto ouvia (e voltava a ouvir), mas podia jurar que ele diz qualquer coisa como "(...) enquanto há outro grupo, bem mais privilegiado e bem melhor, que não quer trabalhar (...)", salvo anomalia otorrinolaringológica grave que me assole.
A única explicação, portanto, é que esse outro "grupo" privilegiado a que ele se referia, e que não quer trabalhar, fosse, afinal, outro que não os médicos que, estúpidos, enfiaram logo a carapuça (-risadinha icontida-).


Enfim, assim anda a caravana, neste país com governantes de faz-de-conta, com um nível tão rasteiro que já parece roçar a esquizofrenia.
O que se pode portanto esperar distorealisticamente, meus senhores?

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sobre o Ovo e a Galinha


Relativamente à excelência selectiva que (ainda) existe para o curso de Medicina hoje em dia, para o qual como sabem só acabam por ter acesso uns poucos dos muitos candidatos ao mesmo, já ouvi diversas confabulações nestes muitos dias que já conto.
A mais repetida das quais, com que muitos contam fechar o assunto nas conversas sobre o tema, é a que postula que "nem sempre os que têm melhor nota são os mais aptos a serem médicos".

Isto abre portas depois às mais diversas ficções dentro da ficção, ao nível da complexidade de uma "Terra Média" do senhor dos aneis, do império galáctico da saga "Guerra das Estrelas" ou do mundo de Harry Potter!

A saber: "muitos alunos que dariam excelentes médicos vêem-se remetidos para outros cursos" e "há alunos que apesar de terem boas notas nunca darão bons médicos". Vai um passinho até se achar, finalmente, que qualquer alminha que fica com vontade de puxar de um penso quando vê uma ferida sangrante deve poder exercer Medicina, e frequentar uma das Universidades que lecciona o respectivo curso (feita à medida das suas capacidades, por menores que sejam). E outro passinho até se ter a certeza que toda e qualquer alma com média acima do percentil 95 é um perigoso criminoso, ganancioso e outros "-osos" em potência, à espera de desabrochar aquando do Juramento de Hipócrates.

Temendo desiludir os iludidos, dois pontos:
-Ponto Um: a meu ver, o numerus clausus num sistema de saúde quase exclusivamente público como o nosso, deve servir, não apenas para o fim óbvio de satisfazer as necessidades com médicos suficientes para dar assistência universal (não gratuita, porque sabemos bem que é cara) à população nas diversas especialidades (o que já sabemos não foi, irresponsavelmente, acautelado há uns anos atrás, abrindo portas à palhaçada da importação de médicos de segunda que não tinham lugar nos sistemas de saúde dos respectivos países de formação), MAS TAMBÉM para evitar o sobredimensionamento em profissionais médicos, que por sua vez retire uma das coisas que esta profissão tem de mais apetecível aos olhos de um jovem de 18 anos candidato ao ensino superior, e que é uma certa garantia de estabilidade de emprego, bem como de uma remuneração que lhe permita ter pelo menos tranquilidade no exercício da sua profissão. Sem estes dois factores, não tenham a mais pequena dúvida que muitos vão-se afastar do pouco apetecível sacerdócio do curso e subsequente vidinha de estudo que o correcto desempenho da profissão exige. E dessa forma, os melhores candidatos afastar-se-ão deste exigente curso, e deixarão de ser os melhores (como acontece hoje, e vem acontecendo nos últimos 20-30 anos) a concorrer para amanhã serem nossos médicos.
-O que me leva ao Ponto Dois: se se considera que um sistema de ensino não estratifica da melhor forma os que o frequentam, e logo os candidatos, por exemplo, ao curso de Medicina, então alguma coisa está mal... COM O SISTEMA DE ENSINO!! Por outras palavras, se os que conseguem aceder ao curso de Medicina, sendo os que têm melhores notas no ensino secundário, não são os mais bem preparados que o ensino secundário produz, então alguma coisa está mal nessa estratificação do ensino secundário, e este deve ser reformado por forma a que os melhores e mais capazes (à partida) tenham as melhores notas.

Parece simples? Então para quê complicar? Para quê continuar a fingir que os melhores alunos deste país ao longo de várias gerações, de acordo com os critérios do nosso sistema de ensino (bons ou maus), são uma cambada de mafiosos a quem calhou uma espécie de lotaria entre mãos, que foi a de se tornarem médicos? Gostariam de "melhorar a triagem" de alunos com critérios subjectivos, como uma entrevistazinha a convidar à cunha? Acham que precarizando esta profissão (e seus profissionais), deixando de a tornar atractiva, vão ter melhores médicos no futuro? Mesmo a granel? Qual vai ser a triagem pós-graduada (já que se pugna em tentar destruir a pré-graduada) entre bons e maus médicos? Aquele que é contratado pelo Serviço Nacional de Saúde "pelo menor preço" é que vai ser bom?

Ganhem juízo.... E deixem-se lá de procurar nos maus exemplos da classe um retrato de todos.
A maioria de nós são apenas isso (como já o eram enquanto alunos de liceu): esforçados, dedicados e capazes!
Quanto aos corruptos, preguiçosos e caloteiros (que, pasme-se, também existem!), façam-nos só um favor: persigam-nos e afastem-nos das nossas narinas, que também não gostamos deles (e somos os que mais sofremos com a sua presença, depois dos doentes). Para isso espera-se um maior papel da OM, com maior capacidade de intervenção (nomeadamente em meios para o apuramento dos factos, que é um dos seus principais problemas, ficando actualmente quase sempre à espera das decisões judiciais para emitir pareceres), e mais investigação e dureza por parte da justiça perante os prevaricadores. Uma maior capacidade de punição laboral também faz falta (aumentar a flexibilização para DESPEDIR as ervas daninhas), aumentando assim a capacidade de intervenção dos directores dos serviços, desde que se alie a isso uma efectiva responsabilização dos mesmos pelo que se passa nos seus serviços. Também passa por se abrir portas às denúncias, e à sua efectiva investigação (aquilo a que tenho assistido nesse campo é desesperante, silenciando-se quem denuncia, fechando os olhos às evidências e arquivando-se os processos que justamente se levantam, mesmo em sede de Justiça).

Mas façam um favor a quem tem neurónios, e deixem-se lá de uma vez por todas das teoria que o mal está na selecção dos futuros médicos pelo critério dos que têm melhores notas no liceu, ou no seu número adequado às necessidades do país. Porque estarão a tratar um problema com outro muito maior, e de mais difícil resolução.

Por mim falo: aos 18 anos parecia-me bem vir a encarnar aquela figura sentada atrás de uma secretária (não parecia trabalho cansativo...), com aquele poder do conhecimento acerca do que se passava com as minhas entranhas (como descobri depois, altamente sobrevalorizado, diga-se de passagem...), e que me parecia ter vida relativamente desafogada (enfim, o meu médico de família foi um péssimo exemplo...). Vocação? Só entrei num Hospital no 4º ano do curso e nunca me apeteceu ir acampar num campo de refugiados em África, se é por aí que os caros leitores avaliam "vocações". Aliás diga-se que duvido que tivesse passado numa entrevista vaga sobre os meus sentimentos pela espécie humana em geral, que são desde esse tempo bastante semelhantes aos actuais. E, até para minha surpresa (porque ninguém, apesar de tudo, está imune a esta pressão da "vocação"), e contra as minhas melhores expectativas, acabei por me tornar naquilo que considero ser um excelente profissional de saúde, daqueles que conseguem fazer tudo o que é humanamente preciso para tratar, segundo as melhores orientações internacionais, os doentes que lhe aparecem pela frente.

Não posso pedir mais em termos de realização profissional. Mas já que dou tudo o que tenho, e que espero que seja tudo o que há para dar, espero no mínimo por algum reconhecimento pela justeza do meu trajecto de vida.