sábado, 15 de outubro de 2011

Perguntas de um Homem Simples



Eu, homem simples, gostava de ter algumas respostas para poder, em consciência, decidir pelo meu futuro e, sobretudo, pelo dos meus filhos.

Gostava por exemplo de saber quanto gasta afinal este "Estado", que convém relembrar é o sorvedouro de assinalável parte do nosso salário, que mama ainda dos bens que consumimos através de IVA's e afins, e que taxa bens, serviços, heranças, prémios de jogo, enfim, tudo aquilo que meta dinheiro, para se auto-financiar, com uma legitimidade "histórica" que me parece bem mal parida, mas enfim, era assim quando nasci e assim continua.

Quanto gasta? Mas também quanto gasta, e em quê?

Na "redistribuição da riqueza", por exemplo. Quanto este Estado "redistribui", e até que ponto os mais pobres e desfavorecidos beneficiam dessa intervenção. E a que preço? Será que os pobres e desfavorecidos são bem tratados por este Estado? O Estado gasta bem o dinheiro em prol deles? Não haveria entidades privadas capazes de fazer melhor e por um menor custo? De chegar com a intervenção onde realmente se deve, e ajudar quem realmente precisa, com os meios necessários (e não paliativos que nada resolvem)?
O que nos leva à questão: quanto se desperdiça em nome da "redistribuição da riqueza"?

Quanto se gasta com "serviços de utilidade pública"? São mesmo úteis? Que funções têm, e qual a eficácia com que as desempenham? E a que preço?

E quanto se gasta com "empresas públicas"? São lucrativas? Se não o são, porque é que o Estado me tira dinheiro para as financiar? Alguém me pediu se eu estava disposto a desperdiçar parte do meu salário para manter o sustento de funcionários de empresas insolventes? Não há outras empresas, do sector privado, daquelas às quais só dou dinheiro se me apetecer, que fazem igual ou melhor serviço?

E quanto se gasta no financiamento de folclore diverso, vulgo cultura/desporto, seja directamente através do Estado ou através das mil e uma câmaras espalhadas por esse país fora? Porque não deixar a cultura ser financiada por quem disfruta dela, de acordo com o gosto de cada um? Eu não me importo de pagar (e pago) por lazer, desde que seja escolhido por mim, ao meu gosto. E eu e muitos com o mesmo gosto decidiremos se esta ou aquela actividade lúdica deve vingar, ou não (se formos poucos ou se a actividade não se revelar satisfatória). Ou esta e aquela actividade desportiva. O que é feito do associativismo? Do mecenato? Dos donativos? Porque é que há de ser essa entidade denominada Estado a decidir se há foguetes em Braga, sardinhas no Porto ou Carnaval na Madeira, e a gastar o dinheiro que me tirou nessas nobres actividades, com as quais não tenho nada a ver (ou talvez tenha)?

Porque é, ou com que direito é que este Estado decidiu gastar o meu dinheiro em Estádios de futebol aos quais nunca fui, em Exposições Universais que nunca me interessaram, em estradas por onde nunca passei, em canais de televisão que nunca vejo, em festas que nunca frequento, em companhias aéreas nas quais nunca voei, em empresas que nunca me foram de qualquer utilidade, em filmes ou peças de teatro que nunca vi, em eventos a que nunca fui?

Bem sei que o Estado, durante muito tempo (e ainda hoje), foi considerado uma espécie de impressora de dinheiro que depois dava ao desbarato para satisfazer uns tantos, e às vezes eventualmente nós próprios. O Estado não tinha nada a ver conosco. Sempre nos tirou dinheiro, mas o que nos sobrava chegava, e por isso não ligávamos.

Hoje descobrimos que, afinal, o Estado "é" o nosso dinheiro. E o nosso dinheiro foi, e continua a ser mal gasto. E que o Estado contraiu dívidas e empréstimos que nós (afinal somos nós, o Estado) teremos (já temos) que pagar. E que o que nos sobra, depois dele nos extorquir o seu quinhão, já não nos chega ou chega mal.

Com que despudor é que agora esta gente, que levou o país a esta situação, que se serviu do Estado e das suas propaladas únicas capacidades de resolver a má distribuição da riqueza e protecção dos pobres e desfavorecidos (mas que agora também deixa desamparados nesta espiral de descrédito e desgraça), reivindica a capacidade de regenerar um monstro que, afinal, apenas serviu para ajeitar a vida a uma elite partidocrata e aos seus amigos, enquanto distribuia (e distribui) migalhas pelos incautos e gastava (gasta) o dinheiro que não era seu?

Gostava que se definisse quais são os serviços essenciais, a serem assegurados pelo Estado. Há quem considere apenas a protecção da propriedade privada, ou seja a segurança (interna e externa) e a Justiça. Eu admito uma ou outra função, talvez a saúde (deformação profissional?), eventualmente o ensino (nas suas linhas mestras). Admitiria facilmente uma função meramente reguladora. Mas enfim, são miragens neste panorama esquizofrénico desta sociedade contemporânea, que ainda julga que o dinheiro nasce da tal impressora, e que um engravatado de Lisboa é que deve decidir quanto tira a uns para distribuir a outros.

Queria um Estado magro, muito magro, que à escala do actual seria praticamente inexistente. Não se trata pois de "cortar umas gorduras" ao Estado, já há muito tempo que isso não vai lá com lipo-aspirações.
O Estado é praticamente todo ele tecido adiposo, e o que é preciso é encontrar o pedacinho de carne lá no meio que vale a pena manter, que é pequeno, e usar o resto para sabonete, a ver se conseguimos limpar esta triste imagem de nós próprios que há de ficar para as gerações futuras, que com toda a razão não vão perceber como raio fomos tão cretinos ao ponto de lhes deixar um país na situação deste em que actualmente habitamos, e que eles um dia vão desgraçadamente herdar.

Somos uma triste página da história. E duvido que tenhamos capacidade para passar disso.

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