quarta-feira, 28 de julho de 2010

Os Nossos Antepassados

Quando penso neles, só me ocorre uma pergunta: o que andaram esses inúteis a fazer?
Crescemos a acreditar em histórias da carochinha.
"Se estudares/trabalhares muito, serás alguém", diziam-me. Constato hoje que se roubar, se enganar, se fraudular ou se desfalcar, muito mais depressa e eficazmente ascendo à condição de "alguém", do que trabalhando, que aliás é meio caminho andado para ser considerado parvo por estas bandas.
"Deves respeitar os outros para que os outros te respeitem". Essa então dispensa comentários....
"Não faças aos outros o que não gostarias que te fizessem a ti".
"Não desobedeças às autoridades".
"Respeita o teu professor".
"Não mintas".
"Não te atrases, deixar as pessoas à espera é falta de respeito"....
Como é que alguém, no seu perfeito juízo, educa os filhos segundo estes princípios irreais, sabendo de antemão que lhe espera a desilusão certa, mais cedo ou mais tarde, ao constatar que nada do que sempre se defendeu junto dele é minimamente valorizado nestas sociedades desprovidas de valores?
Uns têm porque nasceram tendo. Alguns têm porque trabalharam, porque se esforçaram. Outros têm porque não é justo os privilegiados que trabalharam e se esforçaram terem, e eles não.
Uns são porque nasceram sendo. Outros têm que se submeter e intrometer em concursos desleais e farsas que tal, para tentarem ser. Outros ainda, simplesmente são porque acham que têm esse direito, sem sequer se esforçarem para parecer.
Onde está a Justiça afinal? Que assegura a igualdade de direitos (e de deveres)? Onde entra o Mérito no nosso dia-a-dia? O que ele oferece a quem o evidencia? Onde acaba a discriminação dos que têm e são sem o merecerem, e quando é que começa a discrimição aos que querem ter e ser cada vez mais sem fazerem nada por isso, pelo simples facto de acharem que outros devem sustentar os seus vícios e delírios?
Anda tudo doido.
Por isso, caros leitores, sempre que me falam em antepassados, limito-me a puxar resignado por mais um cigarro, suicidando-me mais um pouco.
É que eu não estava de todo preparado para ter que começar a fazer tudo desde o princípio....

Vírus do Nilo II

Via TTA d' "o som nu e cru"

terça-feira, 27 de julho de 2010

Vírus do Nilo

Ou do Tejo, neste putativo caso de que se fala....
Parece que anda para aí.
Não é muito interessante, o vírus, quer em termos semiológicos/de diagnóstico, quer de tratamento (ou até de prognóstico, essencialmente benigno).
Mas como estamos na Era da Epidemiologia, quem sabe está aí para chegar mais uma paranóica onda de pânico?
A ver vamos, eu cá sugeria um documentário sobre o tema com um doente infectado com o dito cujo, de preferência belo e jovem, com os pais a explicar o trajecto da vítima ao longo da sua infância (devidamente inconografado), a convulsivar por fim, e culminando numa sempre dramática assistolia monitorizada. Nem que fosse outro problema qualquer a causar a fatalidade, mas lembrando que esse é o efeito do vírus numa (ainda que irrisória) percentagem dos infectados ("inspirado em factos potencialmente reais"). Rematando, claro está, que a doença se manifesta por uma distinta febre e dores no corpo, para culminar na debandada do povo para os Serviços de Urgência por esse país fora, seguido por comunicados ministeriais e entrevistas a ratos de laboratório do Instituto Ricardo Jorge acerca das alterações climáticas e do Armagedão, mesmo aí ao virar da esquina.
Até lá, relembro-vos e gabo-me das minhas faculdades premonitórias, bastando para o provar que leiam o post anterior, em que de forma visionária defendia (já então...) a erradicação de todos esses vectores que nos vão preocupar.
Pode ser que sempre acabe por ver umas avionetas a pulverizar insecticidas por cima da minha quintinha, afinal. Chamar-se-ia a isso males que vêm por bem, ou de forma mais (apropriadamente) bíblica, que por vezes sempre se escreve direito por linhas tortas....
É o chamado "Efeito Gripe A". E seria o máximo, se não fosse tão caro.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Insectos

Não, não é metáfora. Trata-se mesmo de uma mini-crónica para lamentar que, neste século que traduz avançada idade civilizacional, ainda não se tenha resolvido um problema para o qual, do meu apartamento no segundo andar de uma qualquer cidade, nem estava sequer sensibilizado.
Desse meu 2º andar, sendo adepto fanático daqueles difusores que se ligam às tomadas em regime non-stop, nunca tive problemas com insectos, e julgo contarem-se, à vontade, com os dedos de uma única mão as moscas que eu matava ao longo de um ano. O meu contacto com insectos era esporádico, e a contenda facilmente decidida a meu favor, por inferioridade numérica franca dos espécimens em causa.
Desde que me mudei para esta quinta, de outra forma tão aprazível em visitas pontuais e em qualquer fotografia mais tosca, descobri um problema.
Esta bicheza não tem fim, resiste a quantidades humanamente tóxicas destes insecticidas que despejo pela casa, manifestamente ineficazes, e está na origem da minha mais recente obsessão.
Não são discretos os insectos, nem tímidos, e não são raras as vezes em que, tranquilamente sentado em frente a este monitor, acabo abalroado por uma qualquer mosca ou traça ou lá os nomes que inventam para estas coisas nojentas com asas que teimam em voar à minha volta.
Não facilito, e para além dos insecticidas apetrechei-me com redes mosquiteiras e um bem treinado regimento familiar, severamente punido de cada vez que falham as normas de segurança, destinadas a prevenir a intrusão dos invasores: portas que só se abrem num intervalo de tempo indispensável para, rapidamente, o corpo as atravessar; persianas que só se fecham com luzes apagadas; janelas que só se abrem com as redes postas....
E uma guerra total e impiedosa a tudo o que mexa fora do contexto do agregado. Só que esta guerra não tem fim, e já nem os rastejantes consigo controlar (apesar de serem, de longe, os menos irritantes). Não desisti, nem o farei, mas já pareço o zé das moscas de pano em riste atrás delas e dos seus aparentados.
As visitas ocasionais não estão sensibilizadas com o problema, e acabo por enxotá-las com a minha paranóia com maior eficácia do que às moscas (a Poorta!!!).
As moscas.... Para que servem moscas? Como é que as moscas ainda não foram extintas? Essas coisas irritantes com o seu zumbido de fundo, estúpidas ao ponto de esbarrarem contra os óculos do maior serial-killer de sempre da sua já longa história, sem qualquer noção de discrição ou sequer de camuflagem, que parecem pedir para serem esmagadas quanto antes irritando o predador até ao limite da sua paciência.
Desconfio que é por serem tantas. Onde é que nascerão, para eu completar de bom grado o genocídio em que me empenho totalmente, nos dias que correm?
Não me falem em "eco-sistemas", e não me digam que estas coisas têm lugar nos mesmos, quanto mais terem alguma função que não possa ser desempenhada eficazmente por outro qualquer ser menos irritantemente vivo. Eu próprio me voluntariava de bom grado para suprir essas eventuais funções, se isso adiantasse alguma coisa.
Não haverá um insecticida que se pudesse polvilhar em cima, pelo menos do território nacional, e que exterminasse esta espécie? Os escandinavos que a preservassem, se quisessem (e duvido que, até eles, o quisessem...). DDT? Outra coisa qualquer? Tantos anos de desenvolvimento tecnológico, tantos avanços na química, tanto armamento nuclear e biológico, e não se resolveu ainda esta questão, aparentemente simples?
Bem, isto até pode ser saudável para as crianças (o campo, e tal...), apesar da bicheza e das ervas que crescem por todo o lado no quintal, mas mal posso esperar pela hora em que regressar a um higiénico e limpo apartamento, assim a modos que imediatamente após eles irem às suas vidinhas, daqui a uns (distantes) anos....
E poder finalmente ver estas coisas todas através de fotografias, que alguns me mandam incessantemente por e-mail, e que a par da minha enorme imaginação chega e sobra para desfrutar de todo o prazer da coisa sem a necessidade de partilhar o cheiro, o ruído e a presença física da coisa.
Raios partam os bichos....