sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

6 Feet Under

Sim, é mesmo da série que se trata.
Passou-me completamente despercebida na altura em que seria actual, e vejo (ou vi-a) agora, ao longo dos últimos meses, ritmado pelo resto da minha vida, as 5 séries umas atrás das outras.
Devo ter ganho alguma coisa no encadeamento, sem as imposições que as televisões sempre impõem nessas coisas, com as suas alterações de horário, já para não falar no vazio entre séries.
Vi hoje o último episódio e... está lá tudo.
Vidas simples, com as enormes complicações mundanas que tanto nos apoquentam.
A banalidade da morte, episódio atrás de episódio, com a distância que o negócio da funerária impõe, e que acaba por tornar todo o processo automático, pitoresco, às vezes a raiar uma genuina comicidade de situação. Até ao doloroso dia em que a morte bate à porta, com todos os seus comoventes efeitos devastadores.
Até ao final, em que uma importante decisão de vida dilui-se ridiculamente na crua realidade do envelhecer, do sofrer, e do morrer.
É o pragmatismo da vida real, sem apelo nem agravo, sem contemplações.
Só não sabia era que alguém já o tinha conseguido, de forma tão genuina e bela, pôr em formato de série de tv.
Que se deve ver, como se de um longo filme se tratasse.
Então, what's the point, parecemos querer saber no final?
Olhem, a vida vale mesmo a pena por todas as pequenas grandes coisas. As que são sobejamente poetizadas (filhos, parceiros, amigos, família...), mas também por estas preciosidades que, aqui e ali, vamos podendo ter o privilégio de contemplar.
Coisas efémeras, afinal de contas? Talvez. Mas não interessa, é tudo o que podemos ter.
Faltam-me os adjectivos para definir "isto" que acabei de ver, mas entre o comovente e o doloroso haveria de encontrar a resposta a essa difícil pergunta. Morfina sensorial....
Não percam o privilégio de assistir, caros leitores, num dia desses....

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Minha Corporação É Melhor Que A Tua

Ou se quiserem, uma reflexão acerca do post anterior, em que me nauseio alegremente com a prosápia reles de um qualquer mentecapto deste mundo global.
Odeio corporações. Qualquer frase que comece com "nós, os -corporação-, reinvindicamos..., em nome do nosso -putativas qualidades ímpares- ... -isto e aquilo-".
Não existem corporações de gente ímpar. Existem, isso sim, corporações de gente prestadora de um determinado serviço, cuja pertinência deve ser avaliada, cuja qualidade deve ser escrutinada e/ou assegurada, e que deve ser pago em função desses critérios, na melhor relação qualidade/preço para o alvo a que o referido serviço se destina.
Dentro das regras laborais genéricas que se aplicam a todos? Concerteza, mas sem favoritismos, ou lobbying, como agora se diz.
Esse é um dos principais cancros dos nossos dias, se calhar intratável sem meios radicais (ou intratável: ponto). O mesmo que levou à existência desse sindicalismo, que no fundo não passa do reflexo-mor do corporativismo de um determinado sector, na lógica infantil, e infelizmente bem real, de esticar ao máximo, por vezes até ao limiar do ridículo, a reinvindicação, no sentido de se conseguir o "melhor" resultado final numa negociação que favoreça a determinada corporação. Sob pena de ficar prejudicado relativamente a outras, mais despudoradas.
Note-se que bem sei que pertenço a uma corporação que, ainda que pessoalmente me recuse por estas linhas e pelos meus actos a sujar as mãos nesse ritual que descrevo, outros o fazem por mim, e não pertenço sequer propriamente a uma das mais naives deste país.
Bem sei ainda que, sem esse ritual reinvindicativo, infantil, cada vez mais entediante com o passar dos anos, o mais certo é determinado grupo ser gravemente lesado, em virtude do enquinado arbítrio que deveria ser desempenhado por governantes, eles próprios, e cada vez mais, representantes em primeiro lugar da sua própria corporação, e soberanos defensores dos interesses da mesma, acima do real interesse nacional global que deveriam simbolizar acima de tudo.
Ou seja, bem sei que não há Razão que prevaleça, perante esta "Reinação".
Mas é pena, e desabafar alivia....